O SUMIÇO DO GUIDO

     Era feriado de carnaval quando recebi uma ligação "preciso da tua ajuda". Ouvi atentamente todos os episódios e detalhes dessa conversa preciosa, "vou transferir para sua conta um valor significativo para você começar esta investigação" e foi o que aconteceu.

    Montei um painel com as informações recebidas e fotos que a pessoa tinha enviado. O que eu tinha para começar esta investigação? Nome das meninas, marca, placa e cor do carro, endereço de residência, endereço comercial, local de saída, local de destino, horário aproximado de saída e de chegada, permanência no destino, números de celular do local de hospedagem e das meninas.

    Para começar esta investigação, fiz alguns telefonemas e registrei as conversas e negativas que recebi nas tentativas de contato. A primeira ação foi tentar falar com a pousada. A gerente foi bem receptiva comigo, me passou todas as informações que tinha em mãos, como a quantidade de dias que o casal havia se hospedado, assim como a hora que tinham chegado, alguns episódios de conversas, passeios pelo Vale, recordações frescas de uma estadia feliz. A segunda tentativa foi para os contatos das meninas, celulares que não tinham sido desligados até o momento, na esperança de obter alguma notícia de um possível sequestrador.

    Também descobri que o carro tinha um serviço de cobrança automática de pedágio juntamente com o banco e com isso eu tive acesso ao cronograma de viagem pelas rodovias que as meninas tinham passado, tanto na ida quanto na volta; e, isso tornava a situação estranha e assustadora.

    Resolvi fazer o trajeto que elas percorreram, mesmo parecendo inútil a primeira vista. Eu queria vivenciar a viagem que elas fizeram pelas minhas experiências tendo as sensações que possivelmente elas tiveram, para tentar entender o sumiço do Guido.

    Então no dia seguinte a essas descobertas, peguei minha moto abastecida e segui viagem fazendo o mesmo trajeto que essa família, fazendo as possíveis paradas que elas tinham feito, mostrando as fotos que eu tinha em cada parada pelo caminho percorrido, onde algumas pessoas diziam não se lembrar delas e outras possivelmente com uma lembrança remota. Viajei por 6 horas até chegar no Vale onde fiquei hospedada no mesmo local, no mesmo chalé, tentando visualizar e sentir tudo que elas viveram naquela vila comunitária. Fiz os mesmos passeios que o casal da hospedagem se lembrava que elas tinham feito, me colocaram em contato com outras pessoas que estiveram na mesma semana que elas.

    Com isso fui montando um quebra-cabeça, um mapa de possibilidades. Fiz o caminho de volta, parando em quase todos os locais disponíveis da estrada e fazendo as perguntas aos gerentes e proprietários dos lugares, tendo inúmeras negativas através da visualização das fotos. Voltei para casa, juntei os mapas que eu construí obtendo todas as informações que coletei durante a minha viagem juntando com o que tinha recebido pelo telefonema.

    Afinal, quem era Guido se na foto existiam 3 personagens protagonistas desta viagem?

    Nas fotos e de todas as informações coletadas, a viagem tinha sido feita por um casal de amigas e uma cachorrinha de nome Guida.

    Na minha volta de viagem investigativa, passei nos endereços comerciais das duas amigas, tendo como resposta que uma delas tinha trabalhado naquela sexta-feira que antecedeu o carnaval e que tinha ido de mochilão porque ia viajar e a segunda morava no mesmo endereço do trabalho, vista por seus colegas e estagiários e que tinha saído para viajar aproximadamente às 11h30. Então os horários batiam juntamente com os endereços e informações coletadas. Mas, por onde andariam?

    Após a volta da viagem, nenhuma delas tinham sido vistas por seus amigos, colegas e familiares. Os registros das câmeras de segurança das rodovias marcavam estranhamente o sumiço delas e do carro. Elas teriam parado em algum ponto que não sabíamos? Teriam passado por Varginha? E, o ET tinha algo a ver com essa história? Eram todas suposições!

    Dias depois, recebi nova mensagem "até agora você não me trouxe nada de novo, voltamos a estaca zero?". Será que eu estava enferrujada na profissão de investigadora aposentada?

    Voltei para a estrada à procura de novas informações, desta vez porque o Sr. Ilton, morador do Vale enviou uma foto recente de duas moças com um casal de cães e a frase "volte logo para o Vale, elas estão hospedadas a 25 km daqui no bairro do Ator. Assim que cheguei vi duas mulheres maduras, uma mais nova que a outra, na companhia de dois cãezinhos, sentadas na espreguiçadeira, observando o balançar dos eucaliptos enquanto os homens fortes e suados carregavam os tijolos das casinhas que possivelmente seriam delas. Continuei observando quando ouvi uma delas dizendo "agora a Guida está feliz, encontramos o Guido", o cachorrinho que faltava naquela foto.




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