Um processo chamado felicidade

 Esses dias perguntei no grupo que eu tenho no whatsapp "Arte & Escrita Terapêutica", o que era felicidade, juntamente com questões relacionadas a felicidade no trabalho, se isso era possível, além de trabalhar com o que te faz feliz e como cada pessoa contribui para estar num ambiente feliz e saudável ou seja, como a sua relação no espaço profissional está relacionada com a sua responsabilidade afetiva. Os registros individuais de cada participante não é desvendado porque os materiais são pessoais e as pessoas postam o que e se desejarem.

Talvez você se pergunte o que me motivou a questionar o grupo com essas interrogações. Nos dias 18 e 19 de novembro fui para Curitiba, de avião, para o Congresso Internacional de Felicidade. Antes, de te contar sobre o Congresso, quero explicar algumas outras questões.

Minha mãe é de Curitiba e alguns familiares ainda moram lá. Quando meus avós eram vivos, eu costumava passar 3 meses das minhas férias com eles, julho, dezembro e janeiro. Assim que eles vieram a falecer, meu mundo caiu, o que ficaram foram as lembranças e memórias afetivas. Fui algumas vezes para lá, a fim de visitar meu tio irmão da minha mãe, acompanhar minha filha que na época lutava judô e que foi participar de um evento lá e algumas vezes que viajei para a praia e as visitas à Morretes.

Faziam 8 anos que eu não pisava em solo Curitibano e para dizer a verdade, eu estava ansiosa por estar indo sozinha e de avião, e com medo de encontrar algum familiar julgador por lá.

Esta foi a segunda vez que viajei sozinha porque nas demais com o pai da minha filha que na época era marido e com a minha filha ou minha mãe. Estava apreensiva com os valores que tinha me organizado a levar e a usar para esta viagem, mesmo com margem de segurança, porque se acontecesse algum incidente, eu teria que resolver de qualquer maneira.

A outra coisa que sempre me preocupa é o fato de viajar de avião porque fico tensa com a probabilidade de chegar atrasada, de perder o voo, da mala extraviar; essas coisas que podem acontecer com qualquer pessoa como eu.

Bom, eu me organizei com 6 meses de antecedência, na compra das passagens ida e volta, com as roupas que eu levei, com a inscrição no congresso, com a reserva do hotel e com os valores estipulados para hotel, uber e alimentação; tudo estava programado e consegui me manter dentro do estipulado, sendo que alguns gastos foram cobrindo outros.

Tudo saiu como esperado. Saí cedo de casa, fui de uber até o aeroporto, cheguei bem antes do horário, fiz check-in, comi um lanche, passei para a sala de embarque, aguardei o horário do meu voo, salvei uma família que esperava no portão de embarque errado; porque no painel nosso voo aparecia como portão 10 e no microfone falavam portão 19. Essas foram as segundas pessoas com quem me conectei nesta viagem, mãe e filha indo para Curitiba no mesmo voo que eu, a filha indo conhecer os amigos da mãe na cidade que ela também não conhecia e a mãe por sua vez, indo participar de uma maratona.

A primeira pessoa com quem me conectei foi um funcionário com quem pedi informações sobre o aeroporto por não me lembrar mais como funcionava e como ler a passagem aérea. Com o motorista do uber eu não troquei nenhuma palavra, por ansiedade de estar indo viajar e por discordância musical.

Quando cheguei em solo curitibano, já era tarde e eu estava com fome e com vontade de chegar logo ao hotel, então preferi não jantar no aeroporto e peguei informações de qual portão eu conseguiria encontrar o motorista do aplicativo. Quando eu estava no carro, comecei a conversar com o motorista, um Venezuelano que estava na cidade a 2 anos e meio, gostando muito da cidade que ele elegeu para morar. Sem trânsito pela cidade noturna, fui observando as novas lojas que na época que eu costumava ir não tinha, as ruas que não lembrava mais, os caminhos que fui reconhecendo (alguns), os bairros centrais e Batel por onde passamos e o cheiro da cidade que me acolheu por tantos anos da minha vida.

Cheguei no hotel, agradecida por estar ali, entrei na recepção do hotel, fui atendida por um jovem funcionário que me perguntou três vezes se eu queria ajuda para levar a mala até o meu quarto, me dizendo que ele era forte, que fazia musculação, flexões e eu para encurtar a conversa respondi que não precisava porque eu, esse mulherão, fazia travessias em águas abertas. A que ponto cheguei para me livrar do cidadão que dava em cima de mim?

Já instalada no quarto, cansada, organizando mentalmente meus futuros passos, não quis descer para pedir nem a pizza que podia salvar minha noite, então comi um salgadinho de pacote, daqueles cheios de cacarecos, tomei um banho e capotei na cama, que era estreita e curta ou seja, dormi três noites com os pés para fora e mesmo assim, voltaria naquele hotel outras vezes.

Na manhã seguinte, acordei bêbada de cansada, naquele calor de 32 graus, mal sabia onde eu estava. Tomei um banho, lavei o rosto umas três vezes para acordar, saí do quarto em sentido do café da manhã, comi pão com queijo e dois comprimidos de lactase, voltei para o quarto, peguei a bolsa e atravessei a avenida para chegar no Centro de Eventos Positivo, fiquei na fila de entrada, fez check-in no evento, encontrei a Fabiana da Bahia, assisti algumas palestras e fui acordar de fato lá pelas 11horas da manhã.

O evento deu uma parada para o almoço, nos dirigimos para o espaço de alimentação, teve intervalo a tarde com direito a guloseimas e café, mas o que eu mais desejava era comer frutas que não tinha.

Esse ritual se repetiu no dia seguinte, com o dia chuvoso de 25 graus para o frio com 17 graus, porém produtivo e com menos sonolência. Nos dias que estive em Curitiba, não encontrei ou trombei com nenhum parente, conheci muitas pessoas com quem conversei, tinha a moça amiga da Fabiana que é de Goiás, a família árabe do restaurante Paineiras com as delícias afetivas como a comida da minha avó.

Me lembrei dos meus avós, da casa da Saldanha, das noites de natal, das saídas até a rua XV de novembro, dos cafés na Boca Maldita, dos passeios pelos lindos parques, das viagens que fazíamos, da comida afetiva deliciosa, da saudades que eu tenho deles e de tudo que eles representam para mim.

O evento em si me deixou marcas com os palestrantes inesquecíveis que falaram sobre formas de amor, felicidade no trabalho, sua relação com a casa, happytalism, o caminho da felicidade, A Cura dos Bloqueios Emocionais, Agricultura Familiar, Liderança humanizada, Felicidade é pertencimento, a felicidade está na simplicidade, como encontrar paz em tempos de guerra, Felicidade, arte e muito mais, A dança do universo, O jogo da vida, Vivemos mais! Vivemos bem?, Aprecie a sua vida, Será que é impossível viver sozinho?, Física Quântica e a Espiritualidade, Diversidade e felicidade, 

O que eu vi e ouvi vai muito além do que eu busquei, descobri que fiz a escolha certa no fechamento de um ciclo de maldades e toxicidade, que a pedagogia que me faz semear uma semente em cada criança e assim eu deixo em cada ser o meu legado, se conecta a psicologia de ser quem eu me torno todos os dias, me fazendo reconectar com minha história de vida ressignificada, me conecta a minha resiliência, contribuindo que outras pessoas possam aprender a se conectar consigo mesmas, as minhas restaurações e criações, que me conecta as minhas travessias em águas abertas pelo fato de entender que tudo está conectado entre o céu e o mar, em eu ser quem eu sou hoje, na busca do caminho da felicidade, entendendo que a trilha não é apenas estreita, solitária e, na certeza que eu ando por estradas que ninguém ainda percorreu.

A felicidade é como o caminho da maturidade, precisa querer ser e alcançar. Tanto a felicidade quanto a maturidade é um desejo que se alcança e não depende de ter algo para ser feliz e ter algo para dizer que se é maduro; não é ter, é SER na simplicidade, é SER na conexão, é SER no mundo pessoal e coletivo.

O caminho da felicidade não se resume em SER com controle da aeronave, significa SER em muitos momentos sem entender o que se deseja, porque o resultado nem sempre vem do jeito que foi desenhado pela sua mente. No caminho de desejar uma casa, os trajetos que a vida te traz, ultrapassa o como foi planejado por você. O desejo de viajar o mundo, não se resume a mudança de cidade, mesmo podendo ser um começo de desapegos por onde se está hoje. O caminho do SER, pode ser estreito, duvidoso, angustiante, ansioso, planejado e o que importa não é o final do trajeto, o que importa é o caminho percorrido para ter chegado no destino final porque a vida te desafia a ESTAR em lugares que nunca se imaginou ESTAR.

Ser e estar vale o suor, as lágrimas, os entendimentos, o caminhar e a busca pela FELICIDADE de SER.

Não posso deixar de contar sobre a minha volta para casa. Primeiro o celular deu pane, não funcionava e estava carregado com 88% de bateria. Não conseguia pedir um carro no aplicativo. Peguei carona com três mulheres que iam para o aeroporto, paguei minha parte com um pix de 17 reais (economizei), cheguei, fiz o check-in, descobri que o voo estava atrasado por falta de tripulação, embarquei, sentei na janela, abri a janela que foi fechada pela moça da fileira do meio. Abri a outra janela, vi a asa do Boing 737, viajei com a janela aberta só para olhar as bolinhas de algodão através da janela do assento 20A do voo 1135 do avião da Gol. Gratidão às moças de Conchas interior de São Paulo.

Cheguei em casa, morta de cansada e com fome, fui recepcionada pela minha mãe que fez feijão carioca, arroz com aletria e escarola refogada que estava deliciosa a comida dos Deuses. Obrigada minha mãe por me acolher com tanto carinho, mesmo que com sustos ultimamente.

Imagem: acervo pessoal
Intitulado: Bolinhas de Algodão


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