Vozes da Liberdade

Hoje tive o prazer de fazer uma palestra numa EMEF aqui em São Paulo, a convite da professora, que trabalhou com seus alunos o livro "Cartas de Olga Benario Prestes: uma comunista  nos arquivos da Gestapo". Fui até lá para contar especificidades da minha história e de um dos meus ancestrais que escrevia cartas para familiares de seus amigos, conhecidos e desconhecidos árabes. 

Enquanto eu contava minha história vivenciada por minhas experiências de filha e neta, também fiz uma viagem pela minha infância enquanto aluna nos tempos sombrios da ditadura no Brasil, quando o silêncio era iminente por questões de "ordem" e juramento à bandeira diariamente no pátio da escola. Numa época que os telefones eram grampeados e que por preservar familiares, as conversas eram superficiais.

Durante o ano, os alunos da professora P liam as cartas, interpretavam o texto, compreendiam como tinha sido a vida de Olga, quem tinha morrido e quem ainda vive; eu relatava lembranças de uma infância vivida, num tempo que a voz foi silenciada, mas os olhos viram muitos acontecimentos e ouvidos ouviram alguns relatos, mesmo quando a família preservou a infância de uma criança assustada inicialmente por um capacete e uma viatura branca.

Com o passar dos tempos, a história daquela família continuou sendo silenciada, velada e vista como algo que não podia ser contada, até o momento que amigos se reencontraram para escrever suas histórias e publicaram seu único livro.

História esta que expressa a dor, a indignação pela falta de liberdade de expressão e dos direitos de falar deste ou daquele governo, e sim, de discordar democraticamente dos acontecimentos que diariamente constroem o país, com a história contada por cada escritor que tem percepções diferentes de outros autores.

Nessa viagem de acontecimentos, meu relato foi reflexivo para mim mesma, meu avô foi um herói na sua luta por liberdade, escrevendo tantas cartas e conectando pessoas queridas. Outro ponto, foi pensar em quem eu sou e no que me torno diariamente, uma mulher branca que ocupa o meu lugar na luta por acolhimento e na valorização de meninas mulheres no sentido de autoconhecimento também. Na minha história pessoal de ressignificação e acolhimento das minhas emoções na busca de me tornar melhor a cada dia, de me superar e de me reconectar com meu eu. Na minha vontade em escrever, deixando meus rastros por aqui e ali, nas minhas relações conquistadas e construídas, mesmo que os encontros sejam únicos nesse percurso de vida pessoal e coletiva.

Entender que conhecemos pessoas, nos conectamos às histórias de vida delas e que podemos deixar algo de nós com elas porque tocamos positivamente. 

Mesmo com medo de expor essa história, eu contei! Também num passeio reflexivo quero a minha família e não a  dos outros, com as cargas pesadas de nossos ancestrais, olhadas por nossos olhos, vividas por nossos poros e silenciadas quando escolhemos calar, escritas por cada um de nós como escritores de nossas vivências, ocupando nossos lugares de fato.

Não somos as histórias que lemos nas cartas, mas somos autores de nossas histórias, contadas e escritas por nossos olhares.

Nem todos esses escritores anseiam conhecer os mesmo lugares que os outros e tudo bem, afinal somos diferentes uns dos outros, lutando por direitos iguais a uns e aos outros.

E mesmo que nossas histórias nem sempre sejam felizes, sentimos a partida de quem um dia relacionou-se positivamente com a gente.

 Conheci Patativa do Assaré por intermédio do professor de história que contava sobre seu pai. Como eu mesma disse nessa palestra, a escola representa 1 ponteiro das 16 direções de uma bússola; a escola é o norte e que cada um tenha a curiosidade de procurar aprender e ampliar suas direções, e na minha curiosidade encontrei a biografia deste poeta. 

"Setembro passou, Oitubro, novembro, Já tamo em dezembro, Meu Deus que é de nós, Meu Deus, Meu Deus, assim fala o pobre, Do seco Nordeste, Com medo da peste, Da fome feroz...".

E eu te pergunto, você tem fome de quê? Tomara que seja fome de conhecimento, de direcionamento, de busca por promoção de bem-estar, mesmo que essa busca seja na educação infantil.

Gratidão por fazer parte de todas essas vidas que eu conheci na manhã de hoje!!

Texto autoral 






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