Não só de vinho vivem as mulheres

 Esses últimos dias tem sido diferentes. Sabe quando pedimos um sinal ao universo e as coisas acontecem? Hoje tomei uma taça de vinho tinto seco para acompanhar algumas fatias de panetone vegano, porque afinal não preciso esperar o natal para celebrações ou fazer a comida do próximo evento, de forma parcelada, porque eu não tô nem um pouco a fim de cozinhar e como uma louca, um dia inteiro na frente do fogão.

Esta semana está sendo diferente, quase tudo diferente. Segunda fiz o arroz e congelei; e preparei a mala com roupas de cama e banho, troquei algumas palavras com um querido amigo. Na terça, fiz o molho para a linguiça vegana e separei parte das roupas que vou levar na viagem. Na quarta cozinhei as batatas para preparação da salada com maionese vegana, fiz natação, fui à consulta, fiz terapia, assisti uma deliciosa comédia e acolhi um amigo num momento difícil. Na quinta, encerrei o ano letivo, troquei a calça jeans que ficou grande, peguei a encomenda que vai para Boston, me preparei para um exame de saúde, fiz minhas sacolas e fui viajar.

Nesses dias, queimei minha língua com um pedaço de pão aquecido na frigideira, tentei colocá-lo na boca duas vezes seguidas, mesmo sabendo que ele estava estupidamente quente. Por que será que queremos comer os farelos, as migalhas quando temos a fatia todinha somente para nós? Esse questionamento deve servir para a vida também. Brava com ele que estava quente, joguei de volta na frigideira e comi o pão com a manteiga de coco.

Outra peripécia engraçada e vivida nessa semana, foi o pós vinho tinto tomado no meio da semana. Claro que ele subiu e eu deitei na cama para esperar o efeito benigno passar. Deitada na cama, estiquei as pernas para o alto e senti caimbra na perna direita. Um pensamento engraçado veio à minha mente "o que é isso, uma cinquentona com caimbra na perna direita enquanto faz uma alongamento?", coloquei esse pensamento no status do whatsapp e uma querida pessoa respondeu "Tenho 31 e sim...ahahahahah", na hora eu ri e cheguei a conclusão que estou no lucro com meus 52 anos.

Voltei para natação, dentro da piscina me sinto em casa, me sinto viva, organizando meus pensamentos e a vida. Enquanto nado, me canso, mas me sinto viva a cada braçada, lembro-me da fala do gineco sobre minha ótima saúde. Eu, ainda penso que quero me desafiar muito, bem antes de 2023 chegar, que as minhas promessas de ano novo chegarão antes dele começar.

Hoje eu sei o quanto meu cérebro está se tornando flexível, onde minhas escolhas por me estimar, me cuidar, ser feminina, escolher onde quero estar e com quem quero estar, fazer esportes e me desafiar dentro e fora da água, acolher e ser acolhida, paquerar e ser paquerada, desejar e ser desejada, entrar e sair de conflitos externos e internos, me sentir pertencente e pertencer a lugares e relações, dependem das minhas escolhas e eu mulher branca que ocupa o espaço que ocupo, continuo lutando por meus ideais, da forma igual ou diversa que meus ancestrais fizeram nos momentos de vida deles ou apenas na flexibilização de não pegar um uber da Avenida Rebouças até em casa e pagar 49 reais, mas andar de Pinheiros até a Vila Madalena e pagar pelo uber até em casa o valor de 20 reais, quando essa história foi contada por uma funcionária da forma mais engraçada que se pode imaginar.

Adaptações sempre terei, ocupar o tempo com o que eu mais quiser, seja no trabalho e na vida pessoal, colocando prioridades que eu escolher, fará o tempo passar com propriedade, já que ele passará da mesma forma. Decidi colocar cor no meu armário monocromático, decidi paquerar o interessante da esquina, decidi desejar ser mais feminina, decidi unir mulheres e empoderá-las. Decidi cuidar e ser cuidada, abrir janelas e escancarar portas e nem sempre saberei para onde ir, porque a vida me trará muitas oportunidades.

Decidi não viver de passado porque não preciso escrever em páginas já escritas e nem fazer delas; borrões. Minha história é construída diariamente nas relações que eu escrevo, sozinha, com a família e com as amigas. Para o momento eu quero a fluidez e a clareza vivenciada nos mais novos momentos e nas novas histórias. As espadas eu quebrei, decidi abrir o caminho da vida e cumprimentar o caboclo. Para Iemanjá a vela azul e as rosas brancas, para casa a canela e a sálvia, para vida nova a leveza do espírito.

Nem só de vinho e nem só de útero a mulher se define porque aqui e acolá existe sentimento, emoções e pulsações, mesmo quando os ciclos se fecham e se abrem. 

Hoje restauro a minha vida assim como os caixotes onde uso a lixadeira, amanhã quem sabe compro um guarda-roupa para pendurar minhas peças coloridas. Estimo o meu processo e tudo que nele vivencio. Compro cadernos de desenho novos, para escrever novas histórias de vida, nas páginas em branco desenho, rabisco, escrevo; projeto meu hoje com pinceladas, uma taça de vinho e um bombom delicioso de morango. No fundo, na essência e na transparência, a palavra mais interessante para vida é "adaptação".

Imagem de acervo pessoal



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