Quando é dia de escrever?

Posso te falar que todo dia é dia de escrever, mas vou te contar como tudo começou para mim!

Lá na minha adolescência eu escrevia histórias inspiradas nas histórias contadas pelo meu pai, que adorava inventar personagens escalafobéticos, que residiam em lugares inóspitos, na terra de qualquer notícia que aparecia na televisão. 

Ele inventada histórias de tudo que era coisa, de todo tipo de notícia de gente grande, ele adaptava para gente pequena como eu.

Eu posso dizer que se tinha uma pessoa que era inspiradora para mim era ele, que mesmo com deficiência física ele era a pessoa mais resiliente que eu conhecia. Um homem cheio de defeitos  e que nele eu não via um super herói não, via um homem simples e batalhador.

Sabe, criança aprende não somente e exclusivamente com palavras, mas aprende e muito com exemplos, com as atitudes dos mais velhos que nós. Foi desse jeito que escrevi minha primeira história, de folhas datilografadas e armazenadas numa caixa de recordações.

Depois dessa experiência de escrita criativa, de um personagem que fazia tudo às avessas, veio a oportunidade de escrever para uma proposta da escola, a história que virou uma peça teatral que não recebi nenhum "tostão" porque a minha história foi furtada. 

A partir daí prometi para mim mesma que nunca mais ia escrever. 

Veja o que você promete!! Por que eu digo isso??

Me formei em duas profissões comunicativas e trabalho com elas. Na educação como professora e na saúde como psicóloga, onde o registro dos processos faz parte do trabalho, então os registros são diários como forma de acompanhamento com cada criança, jovem e adulto com quem me relaciono, nas diferentes formas de relacionamento.

Isso significa que a escrita faz parte do meu trabalho, e a promessa de nunca mais escrever, sempre foi por água abaixo.

Nesse processo nasceu não só a necessidade da escrita profissional, mas o registro das reflexões vivenciadas por mim em todos os processos individuais, do trabalho e da vida como um todo.

Eu sei que cada pessoa tem sua maneira de expressão emocional, de organização de ideias e de pensamentos, e cada pessoa tem 'válvulas de escape'. 

Por muito tempo, nadar foi uma forma de organizar a mente, gastar energia e manter-me em atividade física. Em tempos difíceis as caminhadas me mantiveram longe do sedentarismo, até que veio a pandemia onde eu e quase a população mundial enlouqueceu. Nesse período voltei para terapia e com ela a consciência da escrita reflexiva, que ocupava meu tempo entre as horas de trabalho remoto e a necessidade de organização emocional e mental.

Nesse tempo criei o blog "Dicas de Vida em Perspectiva" onde escrevi MUITO. Na sequência construí o primeiro material autoral em formato de ebook, participei de um concurso literário de uma livraria em Portugal. A partir daí, mesmo com medo do desconhecido surgiu a possibilidade de participar de algo muito real, que foi o Projeto "É dia de escrever" juntamente com mais 199 escritores brasileiros que em sua maioria também nunca tinham publicado nenhum material no formato físico.

Tive medo em confiar em pessoas obstinadas que se lançavam como editora e protagonistas deste projeto, como o Junior, a Natalia, o Thiago e o Eduardo Matos dos "Diários de Viagem", que era a única figura conhecida e foi nele que me segurei como uma âncora no mar revolto pensando "por que não me aventurar??"

Fui nessa fantástica viagem antes nunca navegadas, trilhadas ou sobrevoadas. Me lancei por mar, por terra e no ar com toda minha coragem de mulher diversa que sou, num país tão desigual. Foi nesse projeto que coloquei em linhas meus pensamentos, minha personalidade, minha força de mulher resiliente que também sou, depois de tudo que vivi nesses 50 anos de idade.

Dizem que passamos pela crise dos 50 e eu te falo que é a pura verdade. Desde que fiz 45 anos, a vida vem me sacudindo, me virando de cabeça para baixo, me segurando por uma perna só num movimento frenético para ver se ainda tenho moedas nos bolsos para cair no chão.

Foi aos 45 anos que enfrentei o primeiro câncer, e em um ano e meio depois olhei para o segundo com os olhos marejados. Quando escapei dos dois, olhei para mim com todo o carinho e disse que se o câncer não tinha me levado, eu ia virar a vida de cabeça para baixo; era minha vez de sacudir a vida e ver quantas fichas eu ia apostar nas diferentes áreas da vida.

Nesse caminhar, desci do trem, devo ter pulado dele e me arriscado em trilhas desconhecidas. De um convite de trabalho me deparei com a necessidade de virar mais uma página, não era o meu lugar. De um relacionamento falido, escolhi seguir o caminho solo "melhor sozinha do que mal acompanhada".

Vivi muitos lutos de perdas e de escolhas bem feitas no sentido de virar aquelas páginas amargas. Precisava ressignificar conteúdos internos, reescrever com canetinha nova e cadernos sem folhas amassadas. A necessidade de "salvar" a minha mulher interior era gigante, por isso comecei a escrever, para que os meus textos servissem de inspiração para outras mulheres que querem se apropriar de suas "escritas" de vida, de suas histórias; encontrando inspirações para se salvar e ter coragem de caminhar por caminhos desconhecidos; mesmo que sozinhas como eu.

Na vida da gente que amadurece aos 50, ressignificando a própria existência e fortalecendo os vínculos consigo mesma, o autoconhecimento (um caminho) tem feito imensas mudanças em mim. Mas como diz minha terapeuta "se aproprie", eu estou vivendo muitas "vidas" nos meus cinquenta anos, no sentido de experiências inovadoras e corajosas.

Nesses tempos de pandemia conheci muita gente com a "mesma" conversa e como não quero isso para mim, vou seguindo meu caminho contemplando o horizonte, desejando subir a montanha mais alta e sentir o vento no corpo todo, em qualquer caminho que a vida me oportunizar enquanto eu me movimento!

Texto Autoral de Zaira K. Fabre

Gratidão a todas as pessoas que por mim passaram, que ficaram pelo tempo que ficaram e por aquelas que se foram, de um jeito ou de outros. Cada um ocupa seus tempos e espaços que nem sempre os outros estão dispostos a estar.


Imagem de acervo pessoal



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