Um diário de Pandemia

 

Diário da Pandemia

Zaira K. Fabre

 

Início: 23 de março de 2020.

Nesta segunda-feira não vamos à escola hoje. Estamos na pandemia do Covid-19. Todos nós fomos liberados do trabalho presencial. O prefeito decretou recesso, trazendo de julho nossos dias de descanso, para março.

Muito estranho o que estamos passando. E nessa estranheza, com a certeza mais assertiva de que vamos viver um dia de cada vez, sem muitos planos de futuro próximo, como em tempos de planejamento e planos para o futuro.

Nas incertezas de tudo, estar em casa sem muitos planos, me fazia sentir perdida dentro da minha própria casa, com a minha família. Deixar de sair para o trabalho ou nas tarefas comuns como mercado e farmácia deixava tudo cinzento; tempos difíceis.

Recolher-nos era a atitude que trazia certo conforto porque pensava em segurança. Mas estar em ambiente doméstico quando no calendário era tempo de trabalhar, mesmo sabendo que não ia mais, por tempo indeterminado, era um choque de realidade.

Os dias foram passando e após o recesso, gozamos os feriados até que o dia de retorno chegou, mas em teletrabalho ficamos. E como fazer educação infantil à distância era o meu questionamento, já que as interações entre crianças e adultos faziam nos espaços da escola.

Os grupos foram organizados pela coordenadora pedagógica, horas de reuniões e de planejamentos foram tomando conta da nova vida profissional. Grupos de whatsapp foram criados com as famílias, horas de gravação fomos editando em minutos, com atividades para as crianças, diariamente fazíamos as postagens nas redes sociais como facebook da escola e na plataforma sala de aula.

Os dias foram passando, mas a nossa angústia, depressão e ansiedade de colegas vieram à tona. Tivemos que olhar para nós com maior propriedade, encarar nossos maiores medos e ressignificar toda dor em desafios constantes.

Vinha o sentimento dos antepassados que viveram a guerra com os sintomas que ela deve deixar nas pessoas.

Perdemos amigos e amigas, parentes, vizinhos e desconhecidos. De certa forma, lutamos bravamente todos os dias da nossa vida, por dias melhores e por vacina para todos, mesmo que com um número considerável de negacionistas e partidários mostrando o oposto do que é essencial à vida.

Fizemos cursos, extensões, formações. Aprendemos a nos reescrever. Admitimos o medo, o fracasso e o sucesso. Aprendemos e apreendemos conhecimento. Dividimos e compartilhamos informações para ajudar pessoas.

Fizemos de tudo um pouco quando deixamos que o medo diminuísse de nós. Aproveitamos a casa e a aproximação da família 24 horas por dia. Organizamos a casa, preparamos bolos, pudins, pratos elaborados, pães (tínhamos tempo para esperar a fermentação natural), aprendemos violão, balé. Tivemos tempo para comer, para treinar, comprar pela internet, chorar, entristecer, criar grupos, receber doações, entregar doações, colocamos a lista de filmes em ordem (assistimos todos), ajudamos pessoas, fizemos vakinhas, aprendemos jardinagem, fizemos canteiros, vendemos o que não tinha mais serventia, divulgamos trabalhos de inúmeras pessoas.

Preocupei-me diversas vezes, nesta pandemia, em pensar como estavam minhas alunas que viviam em regiões periféricas ou que suspeitava de abusos e maus tratos.

Ajudei mulheres que foram maltratadas, levando-as à delegacia da mulher e outras que ficaram UTI por quase um mês. Acolhi suas dores e reescrevi as minhas. Um amor a vida me levou, graças à Deus, mas dessa experiência conquistei tantas oportunidades, até em escrever um texto para uma antologia.

E dessas experiências, fiquei com o que eu me permiti, depois de uma avaliação criteriosa, comigo quero estar e quem me quiser que seja do bem.

Não sei que dia é hoje, mas sigo pensando que estou carente de uma boa prosa bem presencial, sem as máscaras e que não me venha vestido da melhor fantasia de quem não é.

As melhores conquistas são àquelas que vêm das alianças, de forma sincrônica de pensamentos e de energias que emanamos ao universo.

De um concurso de literatura eu participei, criei um blog, aprendi marketing digital, escrevi um livro digital, quitei dívidas, esbocei um sorriso, reencontrei com amigos, conheci pessoas, estou hoje mais fortalecida que ontem, a vida não termina aos cinquenta como um dia ouvi.

São Paulo, 20 de junho de 2021.

Estamos em pandemia ainda, as pessoas estão sendo imunizadas aos poucos. Voltei ao trabalho presencial com menos alunos. Ontem terminei uma formação e por esses dias começo outra. Ah!! Voltei a atuar como psicóloga a fim de atender a quem precise de atendimento digital e com o Instituto Índigo farei com valores sociais.

Hoje estou fazendo planos para vida que eu sei que terei dias melhores. Estou cuidando da casa, das plantas, fazendo projetos de decoração, restaurando as peças de madeira, fechando contratos com serralheiros e marceneiros; quero a casa linda.

Muitos planos estão brotando na mente, para curto, médio e longo prazo. Escrever de onde eu estiver com quem eu quiser. Viver a vida intensamente como eu mais desejo, quem sabe o mundo me conheça enquanto eu estiver conhecendo o mundo. Acredito que seja um sonho que eu possa realizar, em cima de 2 ou de 4 rodas, sentindo a liberdade e contemplando a vida. Aquele amor que a vida levou não tem importância mais. Não tem como um amor ficar quando o esforço acontece só de um lado da corda. Hoje eu tenho amor próprio, esse sim vale muito. 

@zkf_psico 

Imagem baixada gratuitamente

               https://dicasdevidaemperspectiva.blogspot.com/

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