Um dia de cada vez

Quando em algum dia tivemos mais do que um? Se quando o dia amanhece, olhamos no relógio que é hora de levantar, mesmo que na janela ainda esteja escuro, ainda assim só temos um dia por vez.

Na vida acelerada tínhamos a falsa impressão que os dias aceleravam criando expectativas em nós, onde podíamos antecipar os acontecimentos. Vivíamos dez dias em um, exagerando um bocado, mas na falsa impressão a ansiedade tomava conta de nós e nos movimentava a continuar vivendo daquela forma.

Até que um dia, na incerteza natural da vida e da morte, acordamos sem saber se o dia seguinte iria chegar porque um vírus estava rondando as nossas vidas, e nesse momento, nos perguntamos "e agora, como vai ser?".

E mais uma vez, vivendo um dia de cada vez, enfrentamos o desconhecido, nos adaptando a nova forma de viver.

Assustador, mas vivendo um dia de cada vez e não só pelo vírus que nos assombra, mas por todo o panorama que estamos enfrentando. Com um estrategista de guerra que é, desconsiderando a dor da população, suas responsabilidades do cargo público que ocupa, a pandemia que assola o país e nosso povo. Porque enquanto não houver imunização, não haverá segurança na saúde e na alimentação, não haverá trabalho e economia financeira, não teremos capital de giro, nem capital para nada, mas o que ele vem dizer a respeito disso, se o que ele quer é estar com os bolsos cheio de dinheiro e que o resto se exploda.

Mas a questão principal desta publicação é a saúde emocional, a minha, a sua e a nossa. Sem equilíbrio emocional e saúde física não somos muita coisa. Um dos movimentos internos que o desacelerar nos causou foi justamente a mudança das prioridades. Enquanto estávamos no movimento acelerado, vivendo a vida no automático, olhar para nós, muitas vezes, ficava em outro plano. Mas quando tivemos que desacelerar, ficar em casa para não disseminar a contaminação pelo vírus, tivemos que fazer o essencial, olhar para nós com mais propriedade.

E quando eu digo "olhar para nós", entenda pelo significado mais profundo da palavra. Olhar para nós na profundidade do nosso ser.

Quantas vezes deixamos de dar importância para uma dor física e emocional quando a vida corria desenfreada? Quantas vezes deixamos a discussão para hora de dormir porque não podia fazer no momento exato que tinha que pegar o transporte para o trabalho? Quantas vezes desconsideramos nossas vontades e o direito de fazer por nós por isto ou aquilo, por este ou aquele?

Junto com o vírus veio a oportunidade de arrumar as "casas", tanto o espaço físico que habitamos quanto o corpo que nos foi dado a vida. Não podemos desconsiderar o medo coletivo que está no mundo todo, mas podemos considerar o fato de estarmos no mundo e olhar para nós e o que nos afeta com toda a propriedade dele.

Se estamos no mesmo planeta, no mesmo mundo e na mesma pandemia, as minhas ações interferem na vida dos outros. Não digo apenas sobre os protocolos de saúde, mas eu digo quanto as nossas escolhas pessoais interferem nos  pensamentos, na  rotina ou a falta dela (que precisa ser reorganizada). O quanto temos que nos apropriar de fato enquanto pessoas que somos.

Sabe aquela história de colocar os pontos nos "is"? É disso que estou falando, mas esses pontos terão que ser colocados na própria existência porque somos pessoas insubstituíveis. Ame-se, cuide-se, respeite-se.



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