Túneis

Quando comecei a reforma da minha casa, iniciei pelo porão fazendo descobertas das histórias que a morada com quase 60 anos tem. Troquei piso, fiz novo reboco e pintura, troquei as velhas estantes por novas, organizei todo o espaço e realoquei os materiais armazenados nele, substitui a janela e fiz pintura nos portões.

Nosso inconsciente mora nas profundezas dos castelos, nos túneis escuros, nos abismos da mente. Quando fazemos uma faxina no mais profundo, descobrindo que temos  verdades e crenças limitantes, justiça e bondade, desejos e vontades, trazemos à luz o que mais desejamos de nós mesmas e entendemos que os outros só são verdade nos domínios das mentes deles, nos propósitos pessoais e nem sempre coletivos.

Perguntei para as cartas "Quem sou eu pessoa hoje" deixando aflorar respostas do que me tornei hoje, uma pessoa comunicativa, trilhando meu presente nas adversidades, olhando para o futuro próximo. "Quem sou eu hoje para o trabalho", hoje você é a pessoa comunicativa, batalhadora, líder e mesmo na adversidade fazendo o seu melhor. "Quem sou eu hoje para o amor", parceira, amiga, leal, justa e com o coração aberto.

Venho fazendo uma faxina tremenda no meu inconsciente, manifestando todos os meus desejos e limitações, transformando dor em amor, crenças limitantes em produtividade, barulho em silêncio; "Quem sou eu hoje na saúde" a paz, a tranquilidade, calma e confiando na espiritualidade, vitória e superação diante de todas as adversidades enfrentadas nesses anos vividos, a vida como ela foi e é vivida, a convivência familiar, as raízes construídas (disso não tenho dúvida), tempos prósperos já postos e outros por vir.

Quando caímos de um tombo bem grande e alto, nos machucamos, se fere bem fundo, fazendo com que a nossa luta em levantar-se é bem difícil no começo e árdua no processo. Outro dia estava conversando com o gerente do banco e me peguei dizendo algo escasso, a meu ver, disse a ele "que antes de mexer nas taxas e limites, eu tinha que sair do buraco". Mas que buraco eu estava falando? Isso é uma crença limitante. Me considero fora desse poço fundo a algum tempo mesmo que a condição financeira não seja das melhores. Não sou rica financeiramente e não tenho nenhuma reserva para absolutamente nada e isso me causa muito nervoso que prefiro nem pensar, mas foram causadas por escolhas erradas de um passado não tão distante assim e de tombos "empurrõezinhos" desleais para que eu chegasse nas profundezas do poço que não estou mais, graças ao bom Deus, que nem sempre entendemos as escolhas e os caminhos traçados por Ele.

E nessa trajetória de vida, fiz muitos amigos graças a facilidade de comunicação que me considero ser, pela confiança que dou às pessoas e me atrevo a dizer que até por ser uma mulher alfa. Mas não me gabo por isso, apenas são características pessoais adquiridas no decorrer da minha existência, onde eu tive que batalhar por muitas coisas que passei nessa vida, acontecimentos muito dolorosos onde na maioria do tempo estive sozinha.

Um dos símbolos que tatuei no meu corpo foi o corvo, gosto de pássaros, tenho uma ligação interessante com eles. Passei um tempo sem gatos, quando as rolinhas entravam na janela da cozinha para comer migalhas de pão. Mas voltando ao corvo, considero um pássaro muito inteligente, criativo e solitário. Mesmo que convivamos com milhares de pessoas, todas as nossas escolhas mais íntimas são feitas solitariamente, ou seja, nós com a nossa consciência.

Mas voltando ao nosso inconsciente, como é bom tirar de dentro dele, as tralhas guardadas por anos, colocar luz nesses túneis para termos a consciência de tudo que não nos serve mais, o que podemos reciclar e o que necessariamente devemos jogar fora, para que possamos dar um passo adiante, mesmo nos turbilhões da mente, nas incertezas do amor, na maluquice da vida em comunidade, na trajetória pessoal e intransferível.

Eu gosto de pensar nas possibilidades e nas novas perspectivas da criança sentada no sofá de cabeça para baixo, tomando suco de canudo com o copo no chão, tomando cuidado para não engasgar. Imagino-me esse adulto hoje sendo a criança desse sofá. Penso nas tranqueiras encontradas no meu inconsciente guardadas a anos, sem uso, e que podem ser reutilizadas de outras maneiras, nem tudo é lixo porque desse material que eu posso reutilizar estão as minhas histórias que posso contar por outras perspectivas, através dos tempos e das minhas reflexões.




 

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