Perguntas sem Respostas



Corremos esses riscos sempre que temos perguntas sem respostas, dúvidas sem esclarecimentos, conversas sem interação, medo sem coragem.

Vou começar pelo último exemplo: medo sem coragem porque o medo é um sentimento ruim quando nos paralisa, mas quando vem acompanhado de coragem, temos a certeza de que ele existe, que pensamos nele com propriedade e legitimidade, porém a coragem nos encoraja em fazer algo sobre aquele sentimento sentido e vivido.

Como é chato você manter um diálogo sem interação que te leva a um monólogo. Esse exemplo me lembra muito do filme "Shirley Valentine" onde a mulher vivida por Pauline Collins interpreta uma mulher de meia idade que vive uma relação não saudável com seu companheiro. Em algumas cenas desse monólogo que ela faz com as paredes da cozinha, é tocante no sentido de quantos momentos vivemos sem a participação do outro que mora debaixo do mesmo teto ou que trava uma relação de "cada um na sua casa", mas com o sentimento de solidão que também não é saudável para ninguém.

E nesses dois exemplos anteriores, o primeiro se encaixa com muita naturalidade mesmo não sendo normal ser sentido, mesmo que acontece muitas vezes na vida de muitas pessoas. Perguntas sem respostas torna-se nessas ocasiões algo que angustia, mas que leva a pensar e refletir, o que quer ser mudado porque se fosse para continuar da forma que está posto numa relação, não teria nem o gasto de energia para incomodar que leve a mudança de comportamento por uma emoção sentida.

Mas pensando no gasto de energia que tocou a Psique como no mito "Eros e Psique", quando ela abre a caixa de Pandora e é petrificada, Eros saí ao seu encontro para salvar a moça. Nesse sentido podemos pensar em nós que nos incomodamos com nossas emoções vividas com alguém que não fala, não interage de maneira comunicativa saudável, dito num diálogo  entre pessoas. Só visualizar, mas não interagir não sinto isso como saudável porque não tem parceria entre pessoas que nem sempre numa comunicação não-verbal torna-se positivamente quando a relação podia ser de outras formas e quando essa comunicação é nada mais, nada menos que um mecanismo de defesa.

Desta forma, perguntas sem respostas está para não diálogo para monólogo que nos traz as interpretações que queremos dar e que podemos pensar do outro, como um muito além não querer se comunicar.

E o que eu me refiro em não comunicação verbal não está relacionado a não querer, mas vai além da consciência. Vai a nível inconsciente, o que eu tenho medo de fazer na interação do outro porque tenho medo de viver a emoção que eu sinto com o outro, mas como essas questões não são vividas com a psicoterapia, não vem à superfície de maneira consciente, vem como se a pessoa não conseguisse expor o que sente, mas "vomita" suas inquietações vividas projetando no outro, como este outro fosse um espelho e vendo sua imagem projetada, pudesse falar que o outro não faz quando na verdade fala dele mesmo.

E desse falar de si mesmo, vem outros sinais demonstrados em outros momentos e não percebidos por nós anteriormente. Quando fazemos perguntas para nós, como se nossos pensamentos fizessem um movimento de quebra-cabeça, tentando juntar as peças, uma hora conseguimos essas respostas não da pessoa que tentamos interagir, mas da formação que vive dentro de uma psicóloga como eu.

Começamos a devorar leituras, textos, artigos científico atrás de respostas, no entendimento de seus complexos, quando estas não estão claras para nós, a fim de ter uma representação fidedigna da situação observada. E nesse movimento vamos juntando as peças: falta de interação, amnésia, medo de envolvimento, utilização desta ou daquela droga lícita, neste ou naquele ambiente não vai nem com você mas pode ter ido com outras pessoas. 

E as dúvidas vem com mais intensidade no sentido de te fazer olhar para aquilo que te incomoda naquela que nem pode ser chamada de relação. Te vê como uma mulher forte, de personalidade forte talvez porque se sinta protegido, assim como em sua casa com sua família. Mas o que tem lá fora? Um mundo assustador?

E como não bastasse tudo isso, a relação profissional é mais exata do que as sensações não vividas e as emoções não sentidas. Contas e números fazem bem porque afinal quem vai discutir com ele? E ainda mais que a matemática traz o sentido das resoluções de problemas do cotidiano, o mundo lá fora está dentro de si mesmo, então não me relacionar intimamente com alguém num ambiente de 4 paredes parece muito hostil à um ambiente com muitas paredes onde ninguém é de ninguém.

E vendo essa panorâmica toda, aonde você se encaixa? Continua sendo o monólogo da cozinha da Shirley, as interrogações do caminho da Alice ou chuta tudo e diz que você tem a resposta mais sensata, que não cabe mais em si. Porque antes de te amar eu tenho que me amar.

Essa é a diferença de muitas perspectivas vivenciadas por si e pelo outro. Começa na emoção sentida e sentimentos vivenciados, enfrentados e superados, como se lá fora da casa protegida existisse um dragão de 7 cabeças, que o forte enfrenta todas as cabeças e o inconsciente finge que enfrenta. Nessa vida não adianta se esconder do que precisa sim ser enfrentado. Fechar ciclos precisam acontecer e é saudável porque mudamos conforme nossos Eus se alteram positivamente quando olhamos para nós e dissemos que isso não tem mais espaço para ser desta forma antiga e tradicional, quando foi e fazia sentido ser.

Quando nos apropriamos de nós mesmas, nos apropriamos da força da loba, do feminino fortalecido e maduro, que quer não apenas vivenciar a terra, o fogo, a água mas acima de tudo o ar, o céu, a liberdade dessa relação consigo mesma que empodera a mulher amadurecida em si mesma.

E o outro? Ele precisa querer a mudança, ele precisa querer entrar em contato com as suas dores, vivenciar e encontrar o caminho dessa transformação de si mesmo, fortalecendo seu "eu" para que consiga a partir daí interagir com outras pessoas que não de seu núcleo familiar.

Entender seus processos é um caminho libertador e desta forma inicial é possível enxergar por outras perspectivas possíveis acolhimentos, possíveis cura de feridas, fechamento de ciclos antigos e abertura de novos processos amorosos chamado relações, mesmo que aconteça com a pessoa que uma vez tentou e não conseguiu.

Numa relação positiva e saudável, existem duas pessoas inicialmente e duas pessoas que tem preferências e desejos, com considerações relevantes. Quando existe uma relação com duas pessoas onde uma manda e a outra obedece considero uma relação abusiva, onde prevalece apenas um desejo, um olhar, mas duas dores, tornando uma relação possessiva.

Mesmo uma paixão é construída de regras e critérios. Uma relação aberta pode ser construída de regras que sejam saudáveis aos dois, sendo confortável e consentido para ambos.

Numa relação existem não só sentimentos e emoções, mas existe necessidade e desejo, afeto e companheirismo para que torne-se saudável para ambos.

Você precisa querer sair do calabouço para enfrentar esse dragão! Tem coragem? 

Precisa de coragem para juntar as peças do quebra-cabeça porque seu "EU' só estará inteiro quando você se permitir enfrentar esses desafios.

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Vila das Borboletas