Me recolhi; sumi!

Desde o dia 16 de fevereiro eu não escrevia, não tinha palavras para escrever. Aconteceram tantas situações que eu precisava recarregar as baterias, pensar mais em mim. Andei por caminhos (sem sair de casa nem para caminhar), conhecidos e perigosos, aos quais me expus demais e isso me assusta muito.

Sabe quando você reconhece que está com medo, mas não entende que em resiliência se encontra a coragem? Era assim que me encontrava, então me recolhi pensativa para entender meus processos internos.

Pensar em recomeçar presencialmente, com o medo coletivo instalado em nós e na obrigatoriedade em voltar, abrir os portões da escola e receber famílias, crianças e compartilhar de certa forma, os espaços de convivência mesmo com o distanciamento exigido nos protocolos de retorno às aulas.

No momento social e econômico que nos encontramos, caminhar para o trabalho fez muito sentido para mim, como outro ato de coragem.

Eu penso que quando temos medo devemos ter coragem porque medo todo mundo sente, mas coragem nem todos tem. 

Tem gente que não tem coragem para falar o que sente, como também tem aqueles que não tem coragem para admitir suas próprias convicções. Sei bem como é viver com medo e não ter coragem de tomar uma atitude de amor consigo mesmo.

Outro dia, um amigo disse que quando ela voltar e ele estiver sozinho, ele será fiel à ela. Eu vejo coragem nessa fala, enquanto tantos outros dizem meias palavras ou tantas bobagens, ele falou o que sentia por ela.

Quando temos convicções do que sentimos e do que acreditamos, só não devemos dizer se não fizer sentido algum para você. Vamos pensar na seguinte questão: Onde você chegou com a sua coragem? Uma pergunta justa, não acha? Mesmo que as vezes eu fico perplexa e indignada com a minha condição de vida, não que eu esteja reclamando de onde estou, mas penso aonde eu fiquei tanto tempo e porque não tomei atitudes corajosas para conquistar tantas coisas que eu sempre desejei. De certa forma, essa estagnação me incomoda e me entristece, mas o que passou não tem volta ou seja, não tenho como voltar vinte anos da minha  vida e fazer tudo de novo de forma diferente, mas posso pensar hoje no que eu quero fazer diferente do que ainda não fiz. Posso planejar, avaliar através de pesquisas, o que é mais vantajoso sobre tudo que ainda quero fazer.

Mas para realizar metas temos que nos cobrar menos e não deixar ninguém nos comparar porque somos únicos e não os outros. Sempre fizemos escolhas de tudo e as consequências são o resultados das nossas escolhas. As vezes achamos que tomamos um caminho certo, mas lá na frente descobrimos que mesmo mudando algumas escolhas, o resultado não foi o esperado. E isso acontece em todas as áreas da nossa vida: financeira, amorosa, relacionamentos, família, trabalho e pessoal.

Não somos perfeitos e não acertamos sempre, ainda mais porque os erros é que nos ensinam progredir.

Penso que é mais difícil aprender quando não temos exemplos, empurrões e elogios. Pessoas nos incentivando a tentar, orientando nossa trajetória, mostrando o caminho e em momentos de perda nos confortando e nos encorajando a continuar. Quando tudo isso tivemos que aprender caindo, a demora é outra e as vezes nem tem continuação de percurso, só tem desistência e a pessoa se sentindo inferior.

Conheço pessoas que desde pequenos foram instruídos para ser vencedores da vida, estudaram línguas, fizeram cursos até formarem-se em carreiras que dessem a eles um futuro promissor.

Mas muitos outros não tiveram e não tem ainda hoje, não diria oportunidades, mas estrutura psicológica de uma família que consegue conduzir a vida de si e dos filhos de uma maneira positiva e isso não tem a ver com classe social, tem a ver com aprendizagem familiar e pessoal.

Se você é da época do merthiolate que ardia e deixava a pele colorida, vai se lembrar como nossos pais cuidavam dos nossos machucados. Quando a criança caía e ralava o joelho, a primeira coisa que se fazia era esfregar o ferimento com água e sabão para limpar. Uma coisa é lavar a pele inteira, a outra é lavar um ferimento. Depois de lavado e esfregado, jogava-se aquele merthiolate dos infernos e o adulto ainda dizia "engole o choro". Te pergunto: Adiantava? O fato da criança engolir o choro é apenas a ponta do problema porque na época dizer isso à criança, não ensinava o essencial; expressar seus sentimentos que a levasse a entender o que sentia. Nesse caso, o adulto não ouvia a criança e não ensinava a ela que todo mundo sente dor, que a dor vai passar quando o machucado começar a cicatrizar, que a pele se renova. 

Hoje sentir empatia pela dor do outro, já é um caminho e levar a criança ter consciência corporal, conhecer seus limites, construir uma reflexão e se sentir acolhida na sua dor, mostra a ela que vai ficar tudo bem e que olhar para si mesma é um ato de coragem e de amor.

Quando você que é o adulto chega para um grupo de crianças de cinco anos e diz " este ano vocês precisam ser corajosos porque medo todo mundo tem, mas coragem apenas alguns, então seremos corajosos. Vamos usar nossas máscaras, fazer a lavagem das mãos, manter o distanciamento dos amigos e dos adultos para nossa segurança e dos outros", isso é uma Ato de Coragem.

O que a professora ensinou às crianças com essa fala? Ensinou que existe um perigo invisível no ar e que todos tem medo e não só as crianças, mas com precauções e cuidados, podemos nos preservar e nos cuidar coletivamente, cada um fazendo a sua parte.

Incentivar uma criança e mostrar para ela que estamos juntos no acolhimento, na empatia, no medo e na coragem, faz com que ela sinta-se emocionalmente segura e é desta forma, que a criança cresce e desenvolve-se com saúde emocional, construindo vínculos e elos com as pessoas.

Afinal queremos um mundo mais feliz emocionalmente!!





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