Expectativas Criadas X Responsabilidade Afetiva

A publicação de hoje é bem mais do que uma reflexão, uma preocupação sobre gerações de homens e de mulheres que acreditam que ser responsáveis financeiramente ou em outra área da vida, exima a sua responsabilidade afetiva consigo e com os outros.

É disso que vamos tratar aqui nesta postagem.

Ouço muitas mulheres reclamando de seus ex parceiros como irresponsáveis e inconsequentes. Entretanto, quando vamos mais a fundo de suas emoções e sentimentos, nos deparamos com algo muito mais subjetivo de um relacionamento ou relação aberta; o que chamamos de responsabilidade afetiva.

Mas o que é e como podemos descrevê-la?

Vamos imaginar uma situação: uma pessoa do passado volta para vida de vocês agora no presente, fazendo com que você se sinta confus@ ou feliz, mas te colocando a pensar em alguns fatos vividos e/ou fazendo você lembrar no que aconteceu para que se afastassem um do outro. Lembram como foi e quais os sentimentos sentidos, trazendo recordações e emoções de tempos vividos. Com ou sem lembranças dos fatos que marcaram o rompimento, o afastamento, o sumiço da pessoa, lembram que passaram tempos remoendo ou tentando entender aquela atitude, mas que agora pode descobrir o que realmente aconteceu, mesmo duvidando da palavra da pessoa.

Quando uma pessoa volta para nós, traz consigo e causa em nós uma nova expectativa, sendo uma pessoa querida ou não, uma expectativa positiva ou não. O que quero dizer com isso, é que quando temos medo de uma pessoa que nos deixou, e dependendo da relação construída (isso já é outro ponto a ser avaliado), pode ser um alívio ou um desespero. Mas quando essa pessoa aparece na nossa vida, neste caso, a vítima (exemplo ruim), aquela que ficou mais tranquila, volta a viver os momentos da época passada.  Se a pessoa teve com ela uma experiência positiva, esse retorno causa certa expectativa que a princípio pode ser alimentada positivamente. 

Porque pessoas, quando você volta para vida de alguém, você acredita que a pessoa está no mesmo nível de evolução de agora ou ela pode ter evoluído, estando diferente que se conhecia anteriormente? Mudamos com as experiências que passamos! E se alguém volta para sua vida é porque quer ou deseja algo com você, ou é puro egoísmo?

Mas vamos focar no que interessa. O mínimo que esperamos e que alimentamos das nossas expectativas é que a pessoa que volta com algum objetivo, tenha responsabilidade afetiva. Mas o que é de fato esse termo utilizado pela psicologia? E não só isso, é também quando você se responsabiliza pelas expectativas que cria nos outros, independente de ser uma relação romântica ou de amizade com, ou sem sexo. Meu pai dizia uma frase para mim e isso era de muita responsabilidade "Se você não quer nada com o outro, seja sincera, fale que não quer, assim você não alimenta na pessoa falsas esperanças e os dois vão viver".

Mas nessa sociedade líquida que estamos vivendo em 2021, o que tem acontecido muito são relações sem sentido, sem raízes, sem responsabilidades, sem verdade muitas vezes. Veja quantos aplicativos de relacionamento existe para baixar no seu celular, mas é claro que hoje é uma realidade conhecer pessoas de maneira virtual, não é disso que eu estou falando, mas de como você escolhe uma pessoa. Você vê as fotos dos "pretendentes" como se estivesse escolhendo um parceiro ou parceira num catálogo de produtos, não estamos à venda, mas a forma de explicar como funciona para quem não conhece. Tem lá as fotos, a descrição e algumas especificações, e se você gosta aperta o coração e se não gosta aperta o X. E quando dá certo de você conversar com alguém, desconfie das fotos e das conversas como, por exemplo, quando a pessoa diz que mora na rua do chapéu  e ela é sua vizinha, quando nessa proximidade você descobre que a pessoa não é não trabalha em comércio exterior, mas no empreendimento da rua da sua casa, porque pelo menos a foto era verdadeira e o contato de celular tem a fotinho do prédio que a construtora está finalizando… se sinta feliz com essa descoberta!

E voltando à responsabilidade afetiva, nesse exemplo reflexivo, sua amiga volta das cinzas depois de 1 ano, afastada e diz a você meu jovem, "Oi! Fulana, voltei e quero tudo contigo novamente, mas não quero ser só teu" dito isso de forma diferente para confundir seus pensamentos ou, porque realmente não sabe fazer diferente para facilitar. Como você reagiria? Jovem… imagine que você gosta muito dela! Me diga qual a sua reação!

Todavia eu não vou facilitar a sua reflexão! Além de você gostar muito dessa pessoa, de ter vivido uma experiência bacana a um ano atrás, ter sentido sua falta, ter sumido da sua vida, ter deixado você sem entender a reação que teve na época, agora que está de volta, após ter falado tudo que queria, fica no silêncio absoluto. Agora eu te digo por experiência própria que uma relação, seja de amizade colorida, seja de amizade, seja um relacionamento amoroso, romântico ou descolado, ele não vive por muito tempo quando entre as pessoas existe silêncio e sem reciprocidade.

Uma pessoa que está com você tem que alimentar a relação, senão "Inês é Morta", porque silêncio afasta e mata o que tiver vivo entre vocês e dentro de si. Essa situação também não tem nadinha de responsabilidade afetiva.

Podemos tentar justificar com medo de ter algo sério. Para aí meu amigo!

Relacionamentos não precisam ser sérios, como você descreve eu não sei, mas existem inúmeros de relacionamentos que nos permitimos viver hoje nesta sociedade pós-moderna. Não precisamos casar,  juntar os trapos e nem os filhos num mesmo teto,  conviver com as famílias se não quisermos, tudo com consentimento dos dois, combinado e respeitado, porém com responsabilidade afetiva, porque se voltou, tenha amor-próprio e iniciativa para alimentar quem procurou de volta.

Se estiver com a pessoa, a responsabilidade também precisa estar e ser. Estar consigo mesm@ e na relação. Ser o que você é de fato para estar com quem tanto sente o que sente. Como diz meu amigo "o que separa não é a distância e sim o silêncio". 

É aquela história de alimentar a relação, ter consideração com o outro "Oi! Tudo bem?", ser empático, conseguir colocar-se no lugar do outro (empatia), se importar "Como foi o seu dia?". Porque se não houver o carinho e o afeto, não tem muito sentido na nova tentativa; pelo menos eu sinto assim. 

Uma relação de afeto podemos ter com um animal de estimação e até com uma planta quando você compra um vaso de planta, coloca no sol atrás da janela, rega diariamente e vê flores brotando nos galhos. Porque se você não cuidar, não alimentar, o que vai nascer? Se você não cuidar dos seus gatos e cães eles vão adoecer e morrer.

O afeto pelo outro também é uma relação de cuidado, de responsabilizar-se pela outro e por si mesmo nessa relação.

"Eu tive um sonho repetidas vezes por alguns meses, num lugar que eu não conheço e com pessoas que nunca vi. Havia uma janela enorme, um vidro limpo e transparente que preenchia uma parede inteira. Nessa "janela" um piano preto de calda sobre um palco, um banco e um pianista. Uma mesa redonda com duas cadeiras, eu mais alguém que saía sem dizer nada levando sua taça de vinho. Mas eu ficava sentada com as pernas cruzadas, e a taça de vinho tinto na mesa. Eu contemplava a claridade da noite, as luzes e a montanha nevada. Dentro daquele salão, luzes acessas embutidas no teto, floreiras de madeira clara dividiam o espaço onde eu e o piano estávamos do resto do salão de refeição. Entre nós e as floreiras um corredor onde as pessoas podiam circular, mas não tinha ninguém mesmo com o burburinho do salão; mas eu via o homem dos cabelos grisalhos indo embora dali". Aqueles símbolos não faziam sentido nenhum, talvez o piano que na minha infância eu tocava e as geleiras que tenho vontade de conhecer, uma taça de vinho que às vezes eu aprecio e a idade da loba vista nos cabelos grisalhos, mas o contexto não fazia sentido para mim.

Depois de um tempo, percebi que tudo aquilo era um movimento, um desejo de viver um momento especial com alguém de minha confiança, como se fosse outra dança da vida, mas eram muitas expectativas para quem não alimenta positivamente, só mantêm a distância entre mim e o tempo de talvez amadurecer seus sentimentos, ver a vida com mais amor, abrir-se para novas experiências, fortalecer-se individualmente para conseguir ter responsabilidade afetiva consigo e com o outro.

Mas vamos combinar que a falta do outro não é sua responsabilidade, vamos buscar em nós o que nos falta e o que desejamos ter dentro das nossas expectativas por nossas capacidades e não do outro.

Porque do outro cabe a ele resolver seus processos para que um dia no tempo dele, ele consiga ter a plenitude causada pela felicidade de estar na vida de alguém.

"Vem vida me surpreenda!!!"


 Imagem: acervo pessoal


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