Ventania

De uma dor nasceu a capacidade de transformação e a força já existente dentro de si. Em busca de paz, de liberdade, de novos ares, da colheita e do acolhimento de todos os ossos da loba, aquela mulher vem ressurgindo das cinzas, na constância do seus maiores e profundos desejos, pelo reconhecimento, pelo sucesso, pelo crescimento, pela abundância como não só desejo mas como o merecimento de uma vida em liberdade onde ninguém tem o direito de dominá-la.


Depois de uma ruptura dolorosa e necessária, a loba deposita muitas fichas num novo relacionamento, idealizando que aquele seja o que ela nunca vivenciou antes, mas o baque vem à galope, ele não está preparado para a intensidade dos seus sentimentos e assim vive mais uma ruptura sem a possibilidade do fechamento de mais um ciclo na sua vida.

Os dias passaram, horas, meses e neles vieram a capacidade resiliente de transformar dor em produtividade e crescimento pessoal, conscientizando-se de suas capacidades, habilidades, força e desejo por novos horizontes, planejando milimetricamente como nunca havia feito antes em toda sua vida.

Nesses tempos de recolhimento e crescimento, amadureceu como mulher e vem se fortalecendo como nunca antes vivenciado suas dores e seus processos individuais. Fechou portas e janelas, mas escutou a todos e a tudo ao seu redor, escutava a chuva e o vento entrando pelas frestas das portas e das janelas. Observou o dia e a noite, observou as plantas crescendo e morrendo, sentiu e acolheu suas dores e suas conquistas. Viu os brotos brotando nos vasos, ouviu os primeiros piados dos pássaros, ouviu seu coração que pulsava por amor próprio.

Levantou numa manhã mais fortalecida de si mesma, com ânsias, desejos e medos das incertezas da vida. Se armou de vassoura e pá e foi recolher a poeira que havia entrado pelas frestas. Recolheu tudo o que podia e recolheu-se num mais silencioso de todos os sonos.

Era dia quando a loba acordou e se espreguiçou sentindo seus ossos estalarem de tanta vontade de sair por ali. Mas antes, resolveu escancarar as janelas e sentiu a ventania da manhã, com seus sopros frescos e vívidos assim como ela se sentia. Respirou fundo, ouviu seus batimentos cardíacos nos seus poros. Olhou-se no espelho e viu o reflexo de uma mulher viva e forte que vinha se preparando para enfrentar novos desafios com medo mesmo.

Através de suas reflexões vem entendendo muitos movimentos, inclusive e não menos importante seus sentimentos que tem por alguém que ainda tenta dominá-la, mas para estar ao seu lado ele precisa conquistar uma mulher livre.

Sejam as incertezas que rodeiam a vida, sempre haverá uma forma de existir. Sejam os apegos, sempre haverá formas de aprender a viver. Sejam os medos, sempre terão oportunidades de enfrentá-los. Sejam as dificuldades, a vida mostrará caminhos. Para a única situação que não há jeito é a morte física, porque a morte ou fechamento de ciclos, para esses também tem jeitos.

Numa relação consigo mesma ou com a (o) outra (o), reconheça quais são as suas dores e seus amores. E mesmo durante seus processos de reconhecimento, parabenizê-se por suas conquistas, livre-se das culpas que nem sempre são suas, desamarre as cordas e liberte-se no seu tempo.

Quando entender seus sentimentos pelo outro, não diga, guarde, não escancare, mas demonstre de formas diferentes porque nem sempre o (a) outro (a) está preparado para saber*.

*Por incrível que pareça, nenhum deles está preparado para essa notícia.. 

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Vila das Borboletas