A Centenária

Numa casinha simples num vilarejo praiano morava uma senhora centenária. Vivia simplesmente, preparava sua comida, lavava suas roupas, pescava seu peixe, batia sua farinha, arrumava sua cama, estendia suas roupas, coava seu café.

Numa certa manhã depois de ter feito toda sua rotina, sentou-se na beira da cama e debaixo dela pegou um par de sapato mais gostoso para caminhar. Calçou seus sapatos, olhou-se no espelho do quarto, apagou as luzes e despediu-se da casa.

Foi caminhando por onde sentia vontade, sem rumo certo. Da porta da sua casa andou o vilarejo todo, cumprimentando as pessoas, descansando por vezes em bancos e em cadeiras que os vizinhos cediam a ela.

As pessoas que a conheciam diziam para ela voltar para casa, na tentativa de protegê-la, mas ela estava determinada a caminhar. E desta foram foi andando em direção do desconhecido, por ruas, areia, estradinhas, trilhas sempre parando para descansar e tomar um fôlego e continuar sua jornada.

No meio do caminho ela observava tudo ao seu redor como a vegetação, as árvores, sentia o perfume do vento, via as lindas borboletas azuis e assim foi todo o percurso.

Até que num momento dessa trajetória, a centenária como era chamada, chegou no ponto mais alto de uma das inúmeras montanhas mais próximas do seu vilarejo. Ela olhou para o horizonte e viu a imensidão verde à sua volta, o sentiu o vento fresco e quente ao mesmo tempo, sentiu o cheiro de mar, viu inúmeros pássaros sobrevoando. 

Cansada da jornada, sentou-se numa pedra alta com formato horizontal e de lá ficou apreciando sua conquista.

Naquele momento podia pensar em muitas coisas, mas esvaziou a sua mente e deu paz ao coração. De olhos fechados meditou, sentindo a paz daquele lugar e o único pensamento que teve, era que se outras pessoas conheciam aquele maravilhoso espaço que ela descobrir aos seus cem anos.

Depois de um tempo de meditação e de contemplação, a centenária viu que era hora de voltar para casa antes que ficasse tarde. Mas antes ela levantou-se olhou para todos os lados onde seus olhos podiam alcançar. Viu os pássaros e seus ninhos, avistou a imensidão mais uma vez e sentiu-se um botão de flor, sentiu o vento quente, passou as mãos pela vegetação e quando virou-se em direção a estrada percebeu o quanto tinha caminhado não só para chegar aonde estava, mas quanto à vida. Olhou para trás vendo que aqueles anos todos vividos ela foi resiliente em construções e desconstruções, em inúmeras tentativas, erros e acertos mas nunca ressentimentos, mágoas, tristezas e arrependimentos. Guardou em seu coração, lembranças, saudades, momentos vividos e a certeza de ter até aquele momento fez o seu melhor, procurando evoluir enquanto pessoa que é. 

Desceu a montanha em passos pequenos, segurando-se nas rochas e árvores, parando para descansar e agradecendo pelas oportunidades da caminhada.

Voltou para casa, guardou os sapatos no mesmo lugar que antes, tomou um banho e trocou sua roupa,  agradeceu por tudo que viveu naquele dia grandioso, fez uma refeição sentada na velha cadeira da cozinha, acolheu seus sentimentos e delineou novos planos para o dia seguinte.



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