Que lugar você ocupa?

Na terça-feira estive numa agência de um banco para pagar um boleto em atraso e presenciei uma situação constrangedora de 5 funcionários da agência com 2 mulheres negras. Sinceramente eu me senti constrangida e com vergonha por ser uma mulher branca. 

Minha família me educou para questões de humanização, igualdade, respeito, empatia, direitos. Mas com muito pesar percebo que eu sempre vivi no meu mundo de privilégios.

Mesmo já sentido diversas vezes a discriminação por ser mulher e mesmo branca por não ter o tênis de marca, nunca ter ido para a Europa, por usar unhas e batom vermelho, ter amigos homens, ser desta religião, por não ter dinheiro para usar em tal loja (abordagem a partir da minha calça jeans e camiseta do colégio), ser impedida de acessar tal local de elite, não tenho as experiências vivenciadas por pessoas negras.

Me tornei professora da rede municipal porque eu sempre acreditei que na rede pública, onde se defende a educação para todos, eu não teria essa abertura numa escola particular. Na  minha prática pedagógica e humana de trinta anos de experiência, que nesse processo profissional evolui muito, onde a muito tempo, dou a voz a todas as crianças, jovens e adultos e faço a escuta dessas pessoas, empoderando que nesse espaço e comigo elas podem falar e podem contar o que sentem e o que querem compartilhar comigo.

Nesse sentido de vivências profissionais eu entendo, acolho, oriento tanto as crianças quanto as famílias, mas nunca pensei que pessoas negras fossem tão discriminadas por setores e outros profissionais de forma geral, nos atendimentos com olhares e atitudes discriminatórias.

Nesta semana de 16 à 20 de novembro participei da I Semana de Consciência Negra: Lutas e (RE)Existências onde fiquei sem palavras para elaborar qualquer pergunta para os palestrantes durante as lives. Hoje eu entendo um percentual mínimo de tudo que o negro passa desde a escravidão até os dias de hoje.

É algo que até para mim que escreve me faltam palavras para descrever essas atividades ignorantes de toda uma sociedade porque mesmo que os direitos estejam garantidos em leis elas não acontecem. Homens, mulheres e crianças negras sem acesso e sem garantias de atendimento respeitosos, seja em instituições bancárias, em mercados e hipermercados, em lojas, em restaurantes, em escolas, em postos de saúde e hospitais públicos e privados.

O racismo estrutural desde a escravidão ainda acontece e não foi superado em sua integridade.

Quando será nesse processo com Quilombolas, Indígenas, Negros crianças, adolescentes, adultos, homens e mulheres serão incluídos com respeito e direitos preservados, menor será a vulnerabilidade da população, precisamos pensar nos direitos como prioridade à vida.

A auto declaração de negros e pardos de acordo com o IBGE até 18 anos é formada de afro-brasileiros e os impactos diretos relacionados à violência sexual, evasão escolar, desistência escolar, a maioria entre os pobres, violência doméstica, jovens que não estão no âmbito escolar e sem acesso à educação por conta de internação, maiores números de crianças para adoção; e casos sem dados de pesquisa para mensurar. 

Existe ações e projetos de superação sobre os avanços da sociedade escravocrata mas ainda têm muito que avançar.

Ouvir, conhecer a realidade, discutir, mudar, respeitar! 

Ainda as meninas negras estão no trabalho infantil, com dados recentes com a infância negra, dados da UNICEF onde 62% encontram-se no trabalho doméstico, com 61% de crianças e jovens negros viviam na pobreza em 2010. A taxa de homicídio é quatro vezes maior que os brancos (Datasus, 2013). O levantamento dos dados fez parte do relatório Fundo das Nações Unidas.

São dados, que para mim, chocantes. Se um bebê for cuidado por um médico branco ele pode vir a não sobreviver por racismo, ou seja, racismo acima da ética profissional. Uma mulher negra que vai para a mesa do parto não recebe anestesia em todo o processo do parto com o discurso escravocrata da equipe dizendo que não vão dar anestesia porque a mulher negra é forte. Para esse trem chamado vida que eu quero descer. Desigualdade social, seletividade penal, encarceramento em massa, racismo obstétrico, desemprego, informalidade, desigualdade social. 

Temos que pensar como ainda os negros são representados por imagens, personagens de filmes, propagandas de televisão, desenhos animados, porque a representatividade positiva importa, assim como ser negro, negra importa; estar aonde quiser importa, acessar aonde quiser importa.

Os famílias negras que vieram para o Brasil construir nosso país juntamente com os indígenas foram roubados de suas famílias, de suas casas, de suas terras. Vieram para o Brasil como escravos, violentados, mortos e os que sobreviveram separados brutalmente de suas famílias, perdendo a dignidade. Crianças perderam suas famílias e tão pequenas as que não morreram foram trabalhar nas casas das famílias brancas. Essa violência continua até os dias de hoje.





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