Desumanização

Desde 2019 vem acontecendo no Brasil o desmonte ambiental, as perdas e prejuízos sociais, culturais, históricas. O desmonte da sociedade, parte menor da sociedade, como ancestralidade na cultura gastronômica, a relação do pescador com a natureza, a morte de alimento que até então era discutido como segurança alimentar. O desmonte social, cultural tem o capitalismo estrutural por trás, o ganho por conta exclusivamente dos produtores de camarão por exemplo. A população ribeirinha, pescadores, comunidades afrobrasileiras, mulheres negras da comunidade desrespeitadas por ser mulher, por ser afrobrasileira, por ser líder comunitária, por ser trabalhadora e detentora de conhecimento ancestral. O desrespeito vai além do que você imagina, vai para o nível desumanização. Poluo o mar e mato o seu sustento e a sua alimentação. Feito isso vou te mostrar como sou bonzinho e te dou uma ajuda de 300 reais para você sobreviver durante a pandemia, mas não vou te dar nenhuma informação de onde e como o petróleo puro caiu no mar, nem vou responsabilizar ninguém porque não tenho interesse em transparência de informações e nem de resolução de problemas. Desqualifico o tecnólogo e o doutor professor pesquisador porque ele não sabe de nada e nem precisa saber, e mesmo que venha saber não tem mãos e braços para tomar decisões com as informações que ele tem. Ah mas o que é o petróleo composto que caiu em Abrolhos, matando o que até outro dia era área de preservação ambiental, nada, mais um pedaço de mar que ninguém vai saber o que era. Mas o óleo ou o petróleo  não está entrando apenas nas áreas de preservação ambiental, está afetando populações, vidas, crianças, bebês, adultos, mulheres, indígenas, manguezais, espécies do mar, matando tudo e a todos, matando e desmontando o que até éramos chamados de pulmão do mundo. E daí por diante, porque para eu chegar nesse texto eu já chorei muito. Eu queria estar na areia de pés descalços ouvindo a cultura da gente que cuida do que é mais precioso na vida, a cultura e a ancestralidade. 

Sinceramente eu me sinto parcialmente impotente com tanta injustiça e nem um pouco acomodada para fazer mudanças começando pelo lixo da política, pela falsa democracia desse país que não valoriza a vida de ninguém, só o próprio umbigo. Toda e qualquer mudança cultural, social, se faz coletivamente, e eu não estou só falando do voto consciente e das urnas, e essa postagem não tem nada a ver com as eleições neste ou naquela candidata. Eu estou falando de consciência para quem eu sou nessa sociedade que eu escrevo diariamente. 

Eu sou cidadã brasileira, trabalho neste país, já vi mortes anunciadas, injustiças sociais, já fui discriminada diversas vezes e menosprezada por ser mulher e ter vontades, voz e ação. Num país tão rico de tantas coisas e tão pobre de humanização, a minha ação faz sim muita diferença mesmo eu não tendo tantos leitores e seguidores, mesmo eu não sendo uma influenciadora conhecida.

Minha influência se faz todos os dias quando eu escrevo e publico nas redes sociais defendendo e empoderando mulheres de todas as idades, tão iguais e diversas que eu. 

Eu acredito na  minha força e nas minhas ações de todos os dias. Porque ninguém tem o direito de dizer quem é você, sem saber do meu nome. Ninguém tem o direito de falar "você não precisa de nada", sem saber quais são os meus anseios. Minha voz é na escola quando empodero crianças negras  e brancas dizendo "aqui você pode". A diferença eu faço quando acolho a mulher que sofre, quando ouço a criança que em gestos se comunica, quando eu escrevo o que eu acredito, e infelizmente até hoje o Brasil tem a democracia mais falsa que eu conheço.



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