COMUNICAÇÃO

Nem sempre fui assim tão comunicativa com as palavras. Na Infância era uma criança quieta que me comunicava com os olhos; observando o mundo à sua volta. Na pré-adolescência continuei quieta devido ao bullying que sofria na escola, me fechando num casulo. Devido a alguns acontecimentos da adolescência me "tranquei" num quarto escuro até meus 20 anos. Pela escola, pela família a comunicação era estranha. Eles diziam que tudo que acontecia na minha vida, era culpa minha. Sentindo-me sozinha continuei me sentindo mais protegida no quarto escuro. Eu ia para escola, fazia atividade física, participava das festas familiares, ia ao shopping; enfim fazia tudo que qualquer pessoa fazia, mas não era feliz. Mostrava para os outros o que eu não sentia em mim.

Os tempos passaram e eu fui para faculdade ainda com a família desacreditando das minhas capacidades mentais. Estudei, namorei, casei e tive um filho assim como a sociedade da época pregava. Fiz tudo que tinha que fazer pela vida. 

Fiz psicoterapia desde o meu primeiro salário para me manter de pé, feita um rochedo, mostrando para pessoas uma felicidade que lá dentro com a minha história de vida, eu tinha que superar. E quando a gente entra numa rotina acelerada de compromissos com a casa, a família e o trabalho, dando prioridades para alguns assuntos mais importantes, nossa infelicidade vira o fundo da obra de arte.

Assim os anos passaram e eu não vendo muitas coisas como um casamento que sempre, desde o primeiro ano completado, não tinha futuro. Passei mais de 25 anos casada, com um filho que tomava os passos do pai machista e eu ali me sentindo um lixo. Até que tive a oportunidade de viajar com uma amiga de infância, que ia para outro estado visitar a família.

Eu estava de férias, peguei minha mala e me encontrei com ela no aeroporto e fomos para a Bahia. Só que chegando lá, ela me contou que não tinha família, que ela tinha fugido de casa por conta do marido que batia nela, e como não tinham filhos tinha sido mais "fácil" sair de casa.

Naquele momento eu perdi o chão por causa da história dela, que antes de entrar no avião tinha feito boletim de ocorrência, conseguido a medida protetiva e dado início ao processo de divórcio litigioso com uma advogada da família que estava cuidando do caso. O que eu fiz foi o que eu devia ter feito por mim, fiz por ela, a acolhi. Porque diferente da minha família, eu sabia que não tinha sido culpa dela.

Passamos 15 dias na Bahia passeando de um canto ao outro, alugamos um carro, conhecemos pessoas, almoçamos em restaurantes peculiares, nadamos no mar e no rio, visitamos museus e estreitamos nossa amizade.

Essa viagem me fez perceber muito além da vida dela, me fez refletir sobre quem eu sou e o que fiz até aquele momento da minha vida. Que mesmo sendo uma mulher independente financeiramente nunca tinha feito uma viagem sozinha sem a família. Que eu podia fazer coisas que outras mulheres fazem e que eu nunca fiz, como viajar sozinha, dirigir sozinha até um carro que não era o meu. E isso se deve a educação que eu tive, a insegurança de ser eu mesma, o medo do juízo dos outros, eu fui criada assim.

"Quebrar barreiras e crenças não é fácil mas é possível" e isso eu aprendi na terapia com a minha nova psicóloga que eu conheci em um momento que depois do divórcio e carente me apaixonei por um homem. Minha amiga me apresentou a terapeuta e estou muito feliz com ela fazendo minhas sessões semanais.
Relato de Suzy

O que você leu aqui em cima, foi um relato de vida de uma mulher de 50 anos, que se denomina como Suzy (esse não é o nome verdadeiro). Trouxe aqui um relato resumido de uma conversa que tive o privilégio de participar. Ela pediu para eu escrever e postar aqui no blog com um nome fictício e com a história real da sua vida.

Aprendemos com exemplos desde a nossa infância e na vida adulta fazemos reflexões também a partir das experiências das pessoas. 

Caso queira mandar sua história para publicação, envie um email: zairafabre70@gmail.com



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