Segregação ou Inclusão?
Meu pai era deficiente físico e eu queria ser o meu pai porque além da deficiência física ele era o meu pai. Não era o meu herói mas o meu exemplo de força e resiliência. A deficiência estava na cabeça e nos olhos dos outros. Eu não o via como um homem a menos que eu porque ser deficiente não era visto como uma deficiência para os meus olhos.
A luta por direitos é longa. E mesmo que os direitos estejam num papel, a efetivação nem sempre é respeitada. Mais uma vez a incompetência vem de um sujeito que ocupa um cargo público e político de menos preparo, demonstrando crenças limitantes e arcaicas, preconceito e discriminação naquilo que deveria ao menos ter preparo e coerência ao cargo de ocupa.
Num país democrático onde a consulta pública é prática política, tem se esquecido disso e lançando aos ventos o que um ocupante político acredita ser o melhor sem ouvir o que quem tem propriedade em dizer por ser deficiente. Na mesma questão ficam as decisões pela educação, quem entende nada sobre ela e resolve publicar sobre o assunto sem ao menos ouvir quem faz educação todos os dias.
A fala de quem defende é conivente com a ineficiência de quem assina. Um decreto que interfere na vida do deficiente deve ser elaborado com a participação e a voz dos representantes das categorias. Porque somos e fazemos parte de um país democrático que tem participação efetiva ou pelo menos deveríamos continuar tendo. O deficiente no Brasil ou em qualquer lugar do mundo não é a escória, não é o problema, não é o objeto. Os deficientes no Brasil não são pessoas incapazes, apenas tem limitações assim como qualquer um de nós. Quais as deficiências que você conhece?
Eu percebo que o mais deficiente é aquele que segrega, que discrimina. Meu exemplo familiar foi o meu pai, deficiente físico, um extraordinário médico, dirigia carros sem ser automático, nadava, andava com limitações, ajudou muita gente com deficiência, depois de velho como ele mesmo dizia, voltou a estudar, fez pós-graduação em medicina do trabalho, lia muito, era um homem culto.
Eu vejo esses homens ocupando cargos políticos, sem preparo e desumanos, com o poder na ponta da caneta assinando documentos que desqualificam pessoas, ao meu ver, melhores que eles. Hoje a escola atende todo tipo de criança, não me desqualifiquem pela palavra "tipo". A escola atende crianças com e sem deficiência e solicita atendimento dos departamentos como o NAAPA Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem, estudamos sobre a síndrome da criança, fazemos atendimento com a família para contribuir no processo de desenvolvimento da criança com deficiência.
A escola é parceira no processo de desenvolvimento integral da criança. Foi-se o tempo que a escola dominava a totalidade do conhecimento. A escola é um dos territórios da aprendizagem. Por quantos espaços socializadores nossas crianças aprendem e nos ensinam na integração, nos questionamentos, na voz e na formação de um ser cidadão.
Mas pelo que parece, os representantes políticos estão querendo calar nossas crianças, nossos jovens, nossos professores, nossos atletas, nossas leis. O que está por vir, porque não somos burros, decretos que instituem retrocessos para 40 anos atrás em direitos conquistados.
Saia dessa cadeira política com olhos de sujeito que ainda pode aprender e humanizar-se, quebre suas crenças limitantes, conviva com pessoas diferentes e aprenda com eles, respeite seja uma pessoa com deficiência física, social ou moral. Não queremos ser vistos como iguais apenas no caixão e sim no ato de vida do cotidiano em sermos pessoas de direitos.
Não tire direitos já conquistados. Mantenha-os. Invista o seu tempo em novas conquistas que agregam valor na vida dos outros, valores positivos, de evolução. Invista na qualificação de profissionais da educação, em projetos pedagógicos que tenham como premissa a educação inclusiva porque a documentação de currículo está para garantir a qualidade, a equidade e não a segregação, dar continuidade aquilo que está posto e que funciona, mantendo e melhorando a qualidade. Não comece do zero de um projeto que está arquivado e que já fez parte da história da educação de 1969 por exemplo.
Valorize seus professores e esteja à frente na sua época e pare de desqualificar o que está funcionado no Brasil porque brasileiros, que somos, são sujeitos de direitos.
Comentários
Postar um comentário