Propaganda por PARCERIA
A uns anos atrás eu organizava bazares beneficentes porque era uma forma da minha mãe expor e comercializar as tapeçarias artesanais que ela cria e faz, na maioria sozinha. As vezes quando tem uma encomenda diferente eu e a minha filha ajudamos na produção das peças. Mas para que os bazares acontecessem, eu garimpava pessoas em diferentes feiras de artesanato de rua, escolhendo por produtos diferentes para que não houvesse concorrência entre artesãos, mantendo a exclusividade de cada trabalho. Conversava com os artesãos, explicava como a coisa toda funcionava e a porcentagem do total de vendas ia para uma instituição sem fins lucrativos. Muitas reações aconteciam no processo, das pessoas que eu convidava para o evento, de colegas do meu trabalho que indagavam sobre a minha organização e das próprias instituições que tanto eu quanto amigas artesãs indicavam para receber a porcentagem das vendas. Muitas pessoas não entendiam que a propaganda podia acontecer sem cobrar taxas ou porcentagens, para o meu trabalho de organizadora que sempre fiz; sem lucrar. O intuito era fazer os bazares e as feiras colaborando para que todos conseguissem algum lucro com a venda do artesanato, fazendo contatos e sendo indicada por outras pessoas e outros eventos. Eu entendo que parcerias podem acontecer a todo momento criando uma rede de parceiros, de amigos, de profissionais.
Para ganhar mais visibilidade da comunidade do entorno no endereço do evento, eu buscava parceria com pequenos comércios (que também desacreditavam na proposta) da região para que pudessem divulgar nosso evento e em troca eu colocava no convite o logo de cada parceiro. Além disso, imprimia os convites numa gráfica, distribuía para todos os expositores e logistas, abria a minha casa para que o evento acontecesse. Nessa parceria todo mundo saía ganhando. Eu não ganhava nada em espécie e tudo acontecia para o alcance dos nossos objetivos. Foram 6 ou 7 anos de evento até o ano que eu fiquei doente e parei tudo para cuidar de mim. A única vez que vendemos muito aconteceu quando a instituição divulgou o evento, acreditou na gente, na nossa iniciativa. Foi a ÚNICA instituição que levou a sério o nosso trabalho. Em todos os atendimentos que eles faziam na instituição deles, eles falavam do evento. Naquele evento não paramos nenhum momento. nem para ir ao banheiro, foi sucesso absoluto. Trabalhamos na sexta, no sábado, no domingo e fizemos plantão na segunda para atender o público que não tinha conseguido ir nos três dias de evento e ligavam para comprar por telefone. Eu me lembro que teve uma vez, que o presidente da instituição me recebeu em sua sala, mal me ouviu falar, ignorou tudo o que eu disse. Eu marquei uma reunião, levei cópias de convites de eventos anteriores, levei o livro caixa, mostrei os recibos das doações anteriores, tudo registrado, até as presenças dos convidados, tudo. Fui transparente e honesta. Expliquei como o evento funcionava, que a doação era 10% do total das vendas dos três dias de evento, que era importante a instituição fazer a divulgação do evento, já que eles atendiam muitas pessoas diariamente, se ele concordava com tudo que eu tinha dito e se estava de acordo com a iniciativa. Aquele homem me ignorou. Eu tinha a sensação que falava com as paredes e as portas. Insisti com ele sobre o evento e ele por sua vez não demonstrou nenhuma intenção em fazer parte daquele movimento. Eu por ser resiliente, continuei, organizei, fiz os convites, montei o evento enfim, no dia não entrou uma mosca. No dia seguinte, nem a prima da mosca. Apenas um homem enviado pelo presidente. Ele entrou no espaço e bem sem graça comprou algumas peças mais baratas de uma das artesãs. Dirigiu-se para o espaço externo, fez uma ligação e foi indo embora quando eu o impedi dizendo "Sabe quando a gente pede por ajuda e o universo manda resposta?
Pois é, vocês jogaram a ajuda pela janela. Da minha casa, dos meus amigos, do meu trabalho vocês não terão mais a minha ajuda. Eu fui até vocês, estendi a mão, fui solidária, levei uma proposta para ajudar e vocês desmereceram o meu trabalho. Pela falta de público, vocês não fizeram divulgação do evento, vocês desrespeitaram nossa iniciativa, nosso trabalho". Quando terminava o evento, fechava o caixa, fazia as contas de todos os artesãos, pagava todo mundo, tirava a porcentagem e na semana eu mesma levava o valor para a instituição juntamente com o livro de registros para receber o recibo e a assinatura do presidente ou quem fosse responsável pelas doações. Pois é, eu levei para eles alguns poucos reais. Chegando lá fui recebida por uma senhora que muito tem meu apreço. Ela me recebeu muito feliz, perguntou se eu aceitava uma água e me convidou para sentar. Ele estava sentado atrás daquela mesa onde tinha me recebido mal naquele dia. Ela disse "Que bons ventos à trazem?" Eu disse.."Vim trazer a porcentagem das vendas do evento". E ela "Ah..que pena que eu estava viajando, fui visitar a minha filha na Alemanha, não sabia que o evento tinha acontecido, você não nos comunicou para que fizéssemos a divulgação?" e eu disse à ela..."Claro que fiz!! Vim aqui no dia tal e conversei com esse senhor, expliquei o propósito do evento, trouxe todos os meus registros..voltei aqui com os convites, entreguei em mãos, mas infelizmente minha iniciativa não foi levada em consideração, meu trabalho não foi acolhido, visto pelas poucas vendas que fizemos e hoje vim entregar à vocês a porcentagem recolhida. Entreguei na mão dela o envelope e pedi a assinatura no livro. Ela olhou para ele com ar decepcionada. E ele ainda disse, "mas você não disse que ia ser um evento aberto ao público". Oiii!! Como faríamos a venda se não fosse aberto ao público. Eu vim aqui, expliquei tudo para o senhor, entreguei nas suas mãos os convites e só Deus sabe como o senhor me tratou, me ignorou do começo ao final. Pela quantidade mínima de pessoas que nos visitou em casa, eu sei exatamente o que o senhor não fez. E a conta é bem simples. Se não tem divulgação de vocês, não tem lucro de vendas e consequentemente não tem recebimento de porcentagem. Ela abaixou a cabeça muito decepcionada com a atitude dele e me pediu desculpas. Eu creio que até hoje ele não entendeu o que ele fez. Acredito que até hoje ele não percebeu que o desprezo dele pela minha proposta prejudicou a instituição que ele foi responsável na ausência dela. Bom!! Eu fiz a minha parte do começo ao final.
Essa era o meu trabalho, eu fiz porque eu gosto de me comunicar com as pessoas, gosto de colaborar com pessoas que precisam de uma luz na entrada do túnel. Eu acredito no ser humano, nas possibilidades, nos poderes que podemos receber do universo. Claro que alguns tombos a gente leva no caminho, mas levanta e continua no propósito dos objetivos. A vida pessoal da gente deve ser assim, olhar para frente, buscar soluções, encarar a realidade, chorar quando precisa, levantar a cabeça sempre e seguir a vida com resiliência, mesmo que no caminho a gente seja maltratado, discriminado, abusado, desrespeitado, ignorado. As pessoas dão o que elas tem para oferecer. Eu acredito no meu trabalho, nos meus objetivos. Hoje no mundo digital realizo ações bem parecidas. Publicando e divulgando trabalhos dos mais diversos até de pessoas que eu não conheço pessoalmente, sem lucro algum. Podia cobrar uma porcentagem? Até podia mas não quero. O objetivo é maior que lucrar. O objetivo é humano!
Nos tropeços a gente aprende a mudar a rota. Se fosse hoje eu mudaria de instituição. Não teria dado crédito a quem desacreditou de mim. E esses tropeços aconteceram outras vezes vindo de pessoas das mais diversas. De pessoas que eu gostava, de pessoas que eu considerava amiga e parceira, de pessoas que eu tinha vontade de conhecer mas fugiram como o diabo foge da cruz, de pessoas mais próximas e de pessoas mais distantes. Mas como o povo diz por aí...me livrei de encrenca maior. Hoje eu tenho mudanças de rotas, plano A, B e C e sem medo de ser feliz, fazendo sempre o que me proponho a fazer, desanimando e realinhando a bússola; me mantendo no caminho do bem.
Foto: acervo pessoal - uma encomenda de tapeçaria feita por mim "As calçadas antigas de São Paulo".
Minha mãe se chama Nazira e você a encontra na Praça Benedito Calixto Pinheiros aos sábados das 8 às 17h quando tudo isso voltar ao normal e ela está nesta feira a dez anos depois que insisti para ela mostrar o trabalho lindo que cria com as próprias mãos. Procure por Tapeçaria da Nazira (11) 99136-8452
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