Plante uma árvore...

 ....não uma qualquer. Hoje vamos plantar um bambu. Escolha o local que quer plantar e lembre-se que ele cresce muito alto. Escolha a terra adubada, as ferramentas necessárias para fazer o berço; com tudo pronto comece seu trabalho. Depois de plantar coloque uma identificação no lugar e cerque apenas para prevenção. Regue todos os dias e aguarde o tempo de crescimento natural da planta na vida. Acompanhe os primeiros sinais de broto para fora da terra, no primeiro, no segundo, no terceiro, no quarto ano, desde a data que você a plantou. Eu sei que no seu tempo para tudo, vai achar que fez algo de errado, que pode não ter usado o adubo correto, pensar que esquecer de tirar a proteção plástica da muda que comprou, mas acredite, está tudo certo. Você tem um tempo pessoal e o bambu um tempo natural. O plantio do bambu me parece aqueles planos de vida que a gente tem quando recomeça  viver, quando se tem cinquenta anos e tudo que viveu até o momento não tem o resultado esperado. Nessa hora da vida plante um bambu e vá vivendo, fazendo tudo que tiver que fazer, mesmo sem saber ao certo se tudo que está fazendo é o certo, vai tentando, mudando as rotas, colocando todos os planos no caminho, mudando o/de caminho, vivendo como se não houvesse o amanhã, enquanto você vive dá o tempo necessário para o bambu brotar. Em quatro anos de plantio do bambu, você provavelmente pagou suas dívidas, começou um novo trabalho, colocou projetos de vida para funcionar, escreveu muito, conheceu pessoas, escreveu sua história, escolheu amores, viveu aventuras. Até o dia que o quarto ano espera termina e chega um dia do quinto ano quando você acordo de manhã, desce as escadas de pijama, chinelo e roupão, vai à cozinha prepara uma xícara de café, abre a porta da cozinha, olha para o céu com toda aquela neblina da manhã, saí para olhar o jardim sentindo os aromas do café e quando se depara com uma muda de mais de um metro de altura. Diante da imagem você para perplexo, confuso e pensa a quanto tempo você não vinha ver a muda do bambu que achava que tivesse morta por não ter crescido até aquele momento, será que "perdi" o apontamento da mudinha verde? Você pensa que sim, mas a verdade é que enquanto você foi viver a sua vida fazendo projetos e colocando-os em ação, conhecendo pessoas e fazendo parcerias, a vida cuidou para que em quatro anos, o bambu fizesse raízes tão arraigadas e fortes capazes de proporcionar para o bambu em cinco anos ganhar as alturas no seu quintal. Isso me dá uma certeza de que o meu pai foi feliz..começou a vida no sofrimento da febre reumática e nos reflexos que ela deixou para ele, nos derrames, nos infartos, no coma que teve no começo da sua história, mas diante à todas as dificuldades de tudo que passou, por ser pobre, deficiente físico, mesmo assim estudou, tornou-se médico, construiu uma casa, comprou seus carros, construiu uma família, perdeu uma filha (imagino seu sentimento de impotência sendo médico e perdendo uma vida), viveu uma vida curta enquanto no fundo do seu quintal crescia um pinheiro; me ensinou a ser resiliente, a respeitar as pessoas, a acreditar em mim mesma, a sonhar e realizar, ensinou a humanizar, a contar histórias, fantasiar, criar, a ler, a plantar, amar os animais. Já mudei de planos e plantei muitas árvores, conheci amores e desamores, mudei de rota e de planos, mas hoje estou plantando um limoeiro e quem sabe nesta vida plantarei uma tamareira.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Turismo e a Claudinha

Autora

Vila das Borboletas