Eu não sei encontrar o mar e apenas molhar os pés

 Coisa mais gostosa é chegar na praia usando chinelos, podendo pisar na areia e andar na beira mar com o calçado pendurado entre os dedos da mão, levando a camiseta ou a canga enquanto vai andando e sentindo a água fresca, indo e vindo na marola do mar. Sentar na proa da embarcação, com os pés para fora à procura de golfinhos ou apenas sentindo os respingos do mar junto ao vento de um dia ensolarado. No que se refere ao mar e a você, essa sensação, ao meu ver, é maravilhosa mas não é tudo, não se resume a tudo porque o mar é imensidão assim como a relação do "eu" com o mar vista não só do horizonte ou superficialmente, mas nas profundezas do inconsciente e das inúmeras experiências que nos permitimos viver. Quando me vejo molhando os pés e tendo sensações gostosas e prazerosas me satisfaz no ato de molhar os pés, no ato do aqui e agora.  E nas possibilidades de projetar no aqui e agora o que de fato posso fazer no aqui e agora, diminuindo minhas ansiedades do amanhã ou as minhas angústias do ontem, porque o aqui e agora está sendo vivido, na caminhada na areia e no molhar dos pés. Quando me sento na areia e aprecio o pôr-do-sol esvaziando a mente ou projetando no amanhã a curto e longo prazo, planejo meu futuro porque além da areia e da beira mar eu quero o mar de fora, tenho a certeza de que estou vivendo o aqui e agora com a projeção de futuro ser mais do que é o hoje. Molhar os pés é prazeroso, mas projetar o futuro é desafiador e positivo. E quando chego no alto mar com a possibilidade de me jogar nele, descobrindo que sou realmente um grão de areia na imensidão, tenho a quase certeza de que o hoje valeu o esforço do ontem. Quando me conheço em minhas capacidades desenvolvendo minhas habilidades me torno jovem e fortalecida de meus próprios julgamentos, das minhas próprias convicções e dos julgamentos dos outros. Quando eu sei que o que digo faz sentido para mim, passo a não me importar com as palavras mal ditas dos outros, partindo do que eu disse porque não é o que eu disse que foi mal interpretado e sim a dificuldade de interpretação do outro que não é de minha responsabilidade. O mar está para mim como a minha profundidade de ser eu mesma está para mim mesma. Quando eu era pequena tinha medo do mar e de sua profundidade sem dar conta de que eu sou profunda no que faço, não só na profundidade de ser uma pessoa íntegra mas na ideia de fazer tudo acontecer na profundidade assim como o mar. Hoje sentei para escrever esta postagem, sem meus óculos, para me desafiar no que penso, e no quanto sou coerente com as minhas convicções. Amo a profundidade marinha, o desconhecido e os desafios da vida. O que eu vivo, como vivo e como encaro o mundo abaixo dos meus pés, sempre foi e acredito que sempre será na profundidade de ser. As vezes me diminuo e deixo o outro vencer por não querer e não gostar de gastar energia em discutir com as pessoas. Se é certo ou errado, eu não sei e nem quero julgamentos, apenas quero viver na imensidão do mar e de ser quem eu me torno todos os dias. Minha amiga M. diz que eu vou do céu ao inferno, pela minha intensidade. E eu considero tudo isso uma realidade porque não consigo me encontrar com o mar e apenas molhar os pés. Preciso viver o hoje, o ontem e o amanhã da melhor maneira possível mesmo que a minha forma de amar não seja idealizada pelo outro. O meu ideal é diferente do seu ideal, eu não sou um padrão de pessoa julgada pela massa, eu sou única; sou a profundidade do mar.
Imagem: acervo pessoal.

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