Deu um aperto no peito

Tem dias e momentos que a gente está tão envolvida com os assuntos da vida que nem se dá conta de tudo que tem para fazer, o que tem para procurar, para pesquisar, o que falta em casa, o que tem de mais. Tem momentos que a gente senta cansada, olha para o além e só quer relaxar de um dia de trabalho. Mas tem dia que o trabalho está tão resolvido que a gente se envolve em outros assuntos, relaxa e esquece que os dias foram corridos. Tem outros momentos que a gente está tão organizada, com tudo planejado e depois que consegue realizar tudo programado, o ato de chegar em casa é a satisfação de saber que o feito está feito. Nesse momento tem horas que a realização é a sensação mais prazerosa, porém tem horas que dá um vazio inconsistente e indefinido causando agonia, angústia, palpitação e não sei qual o motivo. Bate aquele aperto no peito porque a gente lembra de pessoas, de lugares, de tempos e nem sequer de algo. Sem nada aparente, nenhuma lembrança certeira, de algo que possa dizer.."foi isso", não definitivamente. Em outros momentos, algo mexe com a gente, uma mordiscada no canto dos lábios, uma foto com lembranças de alguém que se foi sem dizer nada, um olhar perdido no tempo do hoje ou do passado vivido. Tem aquele tempo que a gente lembra de uma lembrança, chupa uma bolota de canela com gosto de infância, faz pesquisas de tudo e mais um pouco, sabendo que naquele momento não pode comprar nada. Vê uma carinha conhecida, vê alguém numa postagem dando adeus sem definição de retorno, assiste um vídeo da colega de trabalho e pensa em tudo um pouco. E nesse tudo e mais um pouco pensa nas possibilidades dos motivos de cada pessoa que viu naquele  momento. Para tudo, canta parabéns, tira uma foto, come uma fatia de bolo, volta a digitar o texto reflexivo. Lembra da mulher que recebeu o pedido encomendado, a satisfação em adquirir a caixa do brigadeiro e o agradecimento da gostosura que sentiu quando os saboreou. Olha para o felino deitado ao lado do seu notebook, a cachorrinha roendo seu chinelo, a certeza de que não terá mais nada com aquela pessoa que nem ao menos respeitou seu trabalho sério. Vem a certeza que com aquela pessoa que passou quatro meses, viveu tão intensamente mesmo que a reciprocidade não aconteceu na proporção que sentiu seus dias com mais leveza e bate uma saudades quando não pode compartilhar com ele suas vitórias, seus projetos, suas expectativas. Nos olhos brotam lágrimas de dias vividos com a certeza de ter feito seu melhor, mesmo quando não tinha tanta consciência assim de quem era aquela pessoa que acompanhava nas baladas da cidade. Noites vivas nas cores das luzes da cidade, da música, dos cheiros e beijos dando àqueles momentos infinitas possibilidades de experiências que jamais teve a possibilidade de experimentar antes num mundo desconhecido. Hoje assistindo um vídeo, que a moça sai sozinha de madrugada para comprar comida num drive thru de lanchonetes nos EUA, eu me dou conta que em SP pedimos comida delivery, e que nunca sai de pijama para buscar comida de madrugada, mas que posso fazer qualquer hora mesmo que não for de pijama. Posso me arriscar dirigir por lugares que nunca fui, dançar até o dia amanhecer, como já fiz em Brasília com uma amiga, e tomar café na padaria antes de ir para casa dormir. Descubro que não fiz muitas coisas, não tenho tantas outras, nem passaporte, mas que posso fazer coisas, comprar coisas que eu precisar de marcas que desconheço. Experimentar experiências que não tive, aprender a andar de moto, viajar de navio, viajar por aí, acampar, conhecer lugares que para algumas pessoas dizem que não tem mais idade para ir em lugares aventureiros quando o lugar que se refere é a capital do Pará..não sei as referências que as pessoas tem. Hoje minha filha está fazendo 23 anos e enquanto escrevo esta postagem, me lembro de quando ela era pequena e meu pai era vivo, viajamos para um hotel fazenda em São Roque, ele me perguntou se no hotel tinha luz elétrica e água encanada. Referências diferentes para pessoas não tão diferentes se for pensar por outras perspectivas. Meu aperto no peito não tem motivo aparente, mas para as coisas do coração, nem todos os motivos são conscientes...ah como é sinistro o inconsciente que as vezes parece uma mochilinha preta pendurada nas costas aonde só acessa seu conteúdo quando você resolve tirar das costas e fuçar lá dentro; pode parecer aquele aluno quieto da sala de aula com mais trinta e quatro coleguinhas encapetados, que quando ele se rebela aparece muitas de suas peculiaridades; vêm em forma de sonho quando eles aparentam desconexos; enfim o inconsciente quando vem faz estragos bons, limpa gavetas e mostra que ele existe em você.  

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Vila das Borboletas